Cenário / Iluminação/ Música
Tadeusz Kowzan
* Os textos que se seguem foram extraídos do cap. 5 ("Os signos no teatro
- introdução à semiologia da arte do espetáculo), que integra o volume
"Semiologia do Teatro" (Editora Perspectiva, 1978). Do referido
capítulo, que se inicia com pertinentes considerações sobre o SIGNO, constam
ainda tópicos sobre A Palavra, O Som, A Mímica Facial, O Gesto, O Movimento
Cênico do Ator, A Maquilagem, O Penteado, O Vestuário, O Acessório e O
Ruído. Isa Kopelman responde pela tradução.
CENÁRIO
A tarefa primordial do
cenário, sistema de signo que se pode tembém denominar de dispositivo cênico,
decoração ou cenografia, é a de representar o lugar: lugar geográfico (mar,
montanha, campo), lugar social (praça pública, lanoratório, cozinha, bar), ou
os dois ao mesmo tempo (rua dominada por arranha-céus, salão com vista para a
torre Eiffel). O cenário ou um de seus elementos pode também significar o
tempo: época histórica (templo grego), estações do ano (tetos cobertos de
neve), certa hora do dia (o sol se escondendo, a lua).
Ao lado de sua função
semiológica de determinar a ação no espaço e no tempo, o cenário pode conter
signos que se relacionem com as mais variadas circunstâncias. Limitar-nos-emos
a constatar que o campo semiológico do cenário teatral é quase tão vasto quanto
os de todas as artes plásticas: Pintura, Escultura, Arquitetura, Arte
Decorativa. Os meios dos quais o cenógrafo se serve são muito variados. Sua
escolha depende da tradição teatral, da época, das correntes artísticas, dos
gostos pessoais, das condições materiais do espetáculo.
Há cenários ricos em
detalhes e cenários que se limitam a alguns elementos essenciais, até mesmo a
um único elemento. Num interior burguês sobrecarregado, cada móvel e cada
objeto (maciço, pintado ou de papelão) é o signo em primeiro grau de um móvel
ou de um objeto real, mas a maior parte deles somente tem significação
individual no segundo grau; são as combinações de diversos signos no primeiro
grau e, às vezes, sua totalidade, que constituem o signo no segundo grau, signo
de um interior burguês. No caso em que o cenário teatral limita-se a um único
elemento, a um único signo, este torna-se automaticamente o signo no segundo (e
mesmo no terceiro) grau.
O valor semiológico
do cenário não se esgota nos signos implicados em seus elementos. O movimento
dos cenários, a maneira de colocá-los ou de mudá-los pode trazer valores
complementares ou autônomos. Um espetáculo pode dispensar inteiramente o
cenário. Neste caso, seu papel semiológico é retomado pelo gesto e o movimento
(expediente ao qual recorre, voluntariamente, a pantomima), pela palavra,
ruído, vestuário, acessório e também pela iluminação.
ILUMINAÇÃO
A iluminação teatral é
um procedimento bastante recente (na França ela foi introduzida somente no
século XVII). Explorada principalmente para valorizar os outros meios de
expressão, pode ter, não obstante, um papel semiológico autônomo. Em vista dos
rápidos progressos, desde a aplicação da eletricidade, quer dizer, desde mais
de um século, a iluminação teatral, com seus mecanismos aperfeiçoados de
distribuição de comando, encontra um emprego cada vez mais amplo e rico do
ponto de vista semiológico, tanto na cena fechada como nos espetáculos ao ar
livre.
Inicialmente, a
iluminação é capaz de delimitar o lugar teatral: o facho de luz concentrado
numa determinada parte do palco significa o lugar momentâneo da ação. A luz do
projetor permite também o isolamento de um ator ou de um acessório. Ela o faz
não somente com o fim de delimitar o lugar material, mas também para pôr em
relevo tal ator ou tal objeto em relação com aquilo que os rodeia; ela se torna
o signo da importância, momentânea ou absoluta, da personagem ou do objeto
iluminado.
Uma função importante da
iluminação consiste em poder ampliar ou modificar o valor semiológico novo; o
rosto, o corpo do ator ou o fragmento do cenário são às vezes
"modelados" pela luz. A cor difundida pela iluminação pode também
desempenhar um papel semiológico.
Deve-se reservar um
lugar especial para as projeções. Por seu funcionamento, elas se ligam ao
sistema de iluminação, mas seu papel semiológico ultrapassa largamente o
sistema em questão. É necessário, inicialmente, distinguir a projeção imóvel da
projeção móvel. A primeira pode contemplar ou substituir o cenário (imagem ou
fotografia projetada), a segunda acrescenta efeitos dinâmicos (o movimento das
nuvens, movimento das ondas, imitação da chuva ou da neve).
O emprego da projeção no
teatro contemporâneo toma formas bastante variadas: ela se tornou um meio
técnico de comunicar signos pertencentes a sistemas diferentes, e mesmo
situados fora deles. Por exemplo, a projeção cinematográfica no decorrer de um
espetáculo teatral deve ser analisada, inicialmente, no quadro da semiologia do
cinema; o fato de que esta projeção exista é, para nós, um signo de grau
composto: este se passa simultaneamente em um outro local, ou trata-se de
sonhos da personagem.
MÚSICA
A música, que é um dos
grandes domínios da Arte, exigiria estudos especializados a fim de destacar
seus aspectos semânticos ou semiológicos. De qualquer maneira, o valor
significativo da "música de programa", da "música
imitativa" tem sido evidente. Mas um método de análise válido só é
possível a partir da pesquisa semiológica ao nível das estruturas
fundamentais da música - ritmo, melodia, harmonia - baseadas nas relações de
intensidade, de duração, de altura e de timbre dos sons. Estas pesquisas
ainda não ultrapassaram um estágio preliminar.
No que concerne à musica
aplicada ao espetáculo, sua função semiológica é quase sempre indubitável. Os
problemas específicos e muito difíceis colocam-se no caso em que ela é o ponto
de partida de um espetáculo (ópera, balé). No caso em que ela é acrescentada ao
espetáculo, seu papel é o de sublinhar, de ampliar, de desenvolver, às vezes de
desmentir os signos dos outros sistemas, ou de substituí-los.
As associações rítmicas
ou melódicas ligadas a certos gêneros de música (minueto, marcha militar) podem
servir para evocar a atmosfera, o lugar ou a época da ação. A escolha do
insturmento tem também um valor semiológico, podendo sugerir o lugar, o meio
social, o ambiente. Entre os numerosos empregos que os diretores fazem da
música, pensemos, por exemplo, no tema musical que acompanha as entradas de
cada personagem e torna-se signo (em segundo grau) de cada uma delas, ou num
exemplo de motivo musical que, acrescentado às cenas retrospectivas, significa
o contraste presente-passado.
Um lugar particular deve
ser reservado à música vocal, cujos signos estão estritamente ligados aos da
palavra e da dicção (como palavra e tom estão ligados na linguagem falada).
Portanto, a música significa às vezes outra coisa diferente do texto (por
exemplo, música suave e texto cruel). Num espetáculo de ópera, a tarefa do
semiólogo é mais complicada porque os signos da música manifestam-se
simultaneamnente em dois níveis: ao nível instrumental e ao nível vocal. Numa
certa medida, também é assim o caso da opereta e da canção.
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