Emoções
Existem grandes
controvérsias sobre a melhor forma de conseguir, para uma cena particular,
determinada emoção ou sentimento, seja do estudante que está iniciando ou do
artista que interpreta. O problema de tornar claro o que se entende por emoção
realmente não é simples. No entanto, para trabalhar diretamente com a emoção
como um problema de atuação durante o treinamento, é preciso formular uma
posição a respeito. Uma coisa é certa. Não devemos usar a emoção pessoal e/ou
subjetiva (que usamos na vida diária) para o palco. É um assunto pessoal (como
sentir ou acreditar) e não algo para ser mostrado no palco. No máximo, a emoção
"verdadeira", colocada no palco, pode ser classificada como
psicodrama. Não constitui uma comunicação teatral.
A emoção que necessitamos no
palco só pode surgir da experiência imediata. Neste tipo de experiência reside
a ativação de nosso eu total - movimento orgânico - que quando combinado com. a
realidade teatral, espontaneamente produz energia e movimento (palco), tanto
para os atores quanto para a platéia. Desta forma evita-se que velhas emoções,
de vivencia passadas, sejam usadas no momento novo da experiência. Deve ter
sido esta a f6rmula que gerou as emoções pessoais originais e, se assim for,
todas as emoções que usamos na vida diária deveriam surgir de um movimento
orgânico - do Onde, Quem e O que, envolvimentos e relacionamentos de nossa vida
pessoal.
Por isso devemos criar nossa
própria estrutura (realidade no teatro) e representá-la, em lugar de vivenciar
velhas emoções.
Desta forma, é acionado todo um processo que cria sua própria energia e
movimento (emoção) no aqui/agora. Evita-se assim o aparecimento do psicodrama
em ambos os lados do palco, pois o psicodrama é um veiculo especialmente destinado
a questões terapêuticas - com o objetivo de extrair emoções antigas dos membros
participantes e coloca-las numa situação dramática, para examina-las e libertar
o indivíduo de seus problemas pessoais. A estrutura dramática é a única
semelhança com o teatro. No treinamento teatral , a emoção pode ser facilmente
provocada por muitas mentiras. Deve-se tomar cuidado para não usar
inadequadamente a emoção individual ou permitir que o ator o faça.
Quando o psicodrama é confundido com uma peça
ou cena, ou quando de é considerado como sendo a cena, o ator é levado a
explorar-se a si mesmo (suas emoções), em vez de vivenciar movimento total e
orgânico. O que mais pode o psicodrama fazer além de extrair lágrimas que devem
surgir apenas do sofrimento individual, e que tornam impossível o
desprendimento artístico? A emoção gerada no palco permanece alheia porque é
útil somente dentro da estrutura da realidade estabelecida.
Quando, durante a oficina de trabalho, os
exercícios, estão sendo usados para liberação emocional, eles devem ser
interrompidos, pois os atores estão trabalhando apenas com os seus sentimentos
pessoais.
Por isso não devemos dar muito cedo aos
alunos os exercicios de emoção, se quisermos evitar exibicionismo, psicodrama
e mau gosto generalizado. O aluno ator não deve fugir para o seu universo
subjetivo e "emocionar-se”, nem deve intelectualizar sobre o
"sentimento", o que apenas limita a expressão do mesmo. A platéia não
deve interessar-se pelo sofrimento, alegria ou frustracão pessoal do ator que
está interpretando. É a habilidade do ator para interpretar o sofrimento,
alegria e frustração do personagem o que os mantém cativos.
Alguns comentários sobre a emoção
Não vamos estudar com profundidade a emoção, mas tocar em alguns pontos
para orientar alunos principiantes.
Ø
Procure
sempre se perguntar: como eu me sentiria se fosse o personagem, nesta situação?
Ø Cuidado para não representar a emoção ao, ao
invés da ação.
Ø Não deixe a emoção desviar suas intenções.
Ø Há uma tendência para falar baixo as coisas
tristes. É preciso que tudo que se fale seja ouvido por todos. A tristeza influi no tom, na
inflexão, mas não no volume da voz.
Ø A grande fonte de emoção é a escolha de
intenções, fortemente energéticas, imaginativas. A intenção é motor da atuação.
Ø Nem sempre a emoção é trágica, enorme,
exagerada, com manifestações ruidosas de choro, gritos, lamentações, ódios, e
agressões. Ela pode estar sem presente, e ser, muitas vezes, tão sutil que se
torna indefinível.
Ø O que aconteceu na vida pessoal, de alegre ou
de triste, pode futuramente ser utilizado no trabalho.
Ø A emoção deve fluir, e não ser um bloco
sólido. E dinâmica e não estática.
Ø Se o ator compreendeu seu personagem,
construiu suas razões internas, se seu relacionamento se ajusta ao de outros
personagens, pode-se garantir que qualquer sentimento ou. Emoção que surja vai
ser verdadeiro e artístico.
Ø E difícil atingir um estado fortemente
emocional, repentinamente, sem ficar falso.
1055 – Grito silencioso
-
O Grupo sentado gritar sem fazer nenhum som.
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Grite com os lados do pé, os olhos, as costas, o estomago, as pernas,
com o corpo todo.
-
Quando todos estiverem no seu máximo, peça que todos gritem soltando o
som.
1056 – incapacidade de mover-se
-
representar uma situação em que está fisicamente imobilizado e
assustado por um perigo vindo de fora.
-
Homem paralisado em cadeira de rodas, percebe outra atrás dele.
1057 – Incapacidade de mover-se II
-
Um grupo de pessoas está numa situação onde é impossível mover-se por
causa de um perigo exterior.
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Soldados em meio a um campo de minas.
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Ladrões escondidos no armário.
1058 – Modificando emoções
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Após completada uma ação. Repeti-la uma segunda vez, mas com uma ação
interior diferente.
-
Uma menina se maquiando para o baile – prazer de ir a festa
-
Segunda ação interior – desapontamento porque soube que o seu ex
namorado vai com outra.
1059 – Modificando a intensidade da ação interior
-
A emoção deve iniciar num determinado ponto e tornar-se
progressivamente mais forte. De afeição, para amor, para adoração – De desconfiança
para medo, para terror. – de irritação para raiva, para fúria.
-
Uma pessoa descobre que foi trocado por outra.
1060 – Emoção em salto
-
Cada ator escolhe alguma mudança radical de ação interior, que
planifica anteriormente e introduz na cena. Ex. de medo para heroísmo, para
amor, para piedade, etc.
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Onde – na toca da raposa
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Quem – dois soldados
-
O que – uma missão perigosa.
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Mudanças de estados emocionais – de medo para heroísmo, de raiva para
compreensão.
1061 – Mostrar emoção por meio de objetos
-
Uma série de objetos no palco. Balão, saco de areia, bola, correntes,
triangulo, saca de café, fitas de elásticos, corda, brinquedos, escadas, etc.
-
Usar um objeto escolhido espontaneamente, no momento em que o ator
necessitar dele, para mostras um sentimento ou relacionamento.
1062 – Mostras emoção por meio de objetos II
-
Os atores repetem a mesma cena realizada , procurando manter o
sentimento dos objetos sem usa-los.
1063 – Jogo de emoção
-
Um ator inicia um jogo que pode ser ampliado para incluir outros
atores. Ele comunica onde está – e quem é.
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Aquilo que vai acontecer com ele deve girar em torno de um desastre,
acidente, histeria, pesar. Outros atores entram em cena, como personagens
definidos, estabelecendo relacionamento com o onde e quem.
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Exemplo – Onde – esquina na rua. Quem – velho. O que – carro atropela o
homem quando atravessa a rua. O velho tenta várias vezes atravessar a rua. É
atropelado pelo carro e cai gemendo no solo. Outros atores entram como
motoristas, agentes de polícia, amigos, transeuntes, ambulância...
-
Exemplo – onde – quarto de hospital . Quem – mulher. O que – sentada no
leito de um parente que está morrendo
1064 – Rejeição
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Estabelecer – onde, quem, o que. Os atores devem rejeitar outros
atores, adotando os seguintes parâmetros.
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Um grupo rejeita outro grupo.
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Um grupo rejeita um individuo.
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Um individuo rejeita um grupo
-
Um individuo rejeita outro individuo.
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Exemplo – uma pessoa nova na vizinhança é rejeitado. Alguém é rejeitado
por causa de sua raça. Professor substituto é rejeitado pela classe.
1065 – Emoção por meio de técnicas de câmera
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Estabelecer – o que, quem, onde.
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De tempos em tempos mudar o ator foco de atenções
Excelente postagem. Me iluminou sobre uma série de questões sobre a técnica teatral. Contudo, entendo a separação entre teatro e psicodrama como algo análogo à neutralidade científica, isto é, como um norte, um horizonte de "dever ser", que serve para "podar" exageros, mas que nunca se concretiza totalmente, já que a separação entre "eu" e "história pessoal" é impossível.
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