terça-feira, 27 de setembro de 2016

Atividades - Trabalhando emoções

 Emoções 

Existem grandes controvérsias sobre a melhor forma de conseguir, para uma cena particular, determinada emoção ou sentimento, seja do estudante que está iniciando ou do artista que interpreta. O problema de tornar claro o que se entende por emoção realmente não é simples. No entanto, para trabalhar diretamente com a emoção como um problema de atuação durante o treinamento, é preciso formular uma posição a respeito. Uma coisa é certa. Não devemos usar a emoção pessoal e/ou subjetiva (que usamos na vida diária) para o palco. É um assunto pessoal (como sentir ou acreditar) e não algo para ser mostrado no palco. No máximo, a emoção "verdadeira", colocada no palco, pode ser classificada como psicodrama. Não constitui uma comunicação teatral.

A emoção que necessitamos no palco só pode surgir da experiência imediata. Neste tipo de experiência reside a ativação de nosso eu total - movimento orgânico - que quando combinado com. a realidade teatral, espontaneamente produz energia e movimento (palco), tanto para os atores quanto para a platéia. Desta forma evita-se que velhas emoções, de vivencia passadas, sejam usadas no momento novo da experiência. Deve ter sido esta a f6rmula que gerou as emoções pessoais originais e, se assim for, todas as emoções que usamos na vida diária deveriam surgir de um movimento orgânico - do Onde, Quem e O que, envolvimentos e relacionamentos de nossa vida pessoal.

Por isso devemos criar nossa própria estrutura (realidade no teatro) e representá-la, em lugar de vivenciar velhas emoções.

Desta forma, é acionado todo um processo que cria sua própria energia e movimento (emoção) no aqui/agora. Evita-se assim o aparecimento do psicodrama em ambos os lados do palco, pois o psicodrama é um veiculo especialmente destinado a questões terapêuticas - com o objetivo de extrair emoções antigas dos membros participantes e coloca-las numa situação dramática, para examina-las e libertar o indivíduo de seus problemas pessoais. A estrutura dramática é a única semelhança com o teatro. No treinamento teatral , a emoção pode ser facilmente provocada por muitas mentiras. Deve-se tomar cuidado para não usar inadequadamente a emoção individual ou permitir que o ator o faça.

Quando o psicodrama é confundido com uma peça ou cena, ou quando de é considerado como sendo a cena, o ator é levado a explorar-se a si mesmo (suas emoções), em vez de vivenciar movimento total e orgânico. O que mais pode o psicodrama fazer além de extrair lágrimas que devem surgir apenas do sofri­mento individual, e que tornam impossível o desprendimento artístico? A emoção gerada no palco permanece alheia porque é útil somente dentro da estrutura da realidade estabelecida.

Quando, durante a oficina de trabalho, os exercícios, estão sendo usados para liberação emocional, eles devem ser interrompidos, pois os atores estão trabalhando apenas com os seus senti­mentos pessoais.

Por isso não devemos dar muito cedo aos alunos os exerci­cios de emoção, se quisermos evitar exibicionismo, psicodrama e mau gosto generalizado. O aluno ator não deve fugir para o seu universo subjetivo e "emocionar-se”, nem deve intelectualizar sobre o "sentimento", o que apenas limita a expressão do mesmo. A platéia não deve interessar-se pelo sofrimento, alegria ou frustra­cão pessoal do ator que está interpretando. É a habilidade do ator para interpretar o sofrimento, alegria e frustração do personagem o que os mantém cativos.
Alguns comentários sobre a emoção

Não vamos estudar com profundidade a emoção, mas tocar em alguns pontos para orientar alunos principiantes.

Ø  Procure sempre se perguntar: como eu me sentiria se fosse o personagem, nesta situação?
Ø  Cuidado para não representar a emoção ao, ao invés da ação.
Ø  Não deixe a emoção desviar suas intenções.
Ø  Há uma tendência para falar baixo as coisas tristes. É preciso que tudo que se fale seja ouvido por todos. A tristeza influi no tom, na inflexão, mas não no volume da voz.
Ø  A grande fonte de emoção é a escolha de intenções, fortemente energéticas, imaginativas. A in­tenção é motor da atuação.
Ø  Nem sempre a emoção é trágica, enorme, exagera­da, com manifestações ruidosas de choro, gritos, lamentações, ódios, e agressões. Ela pode estar sem presente, e ser, muitas vezes, tão sutil que se torna indefinível.
Ø  O que aconteceu na vida pessoal, de alegre ou de triste, pode futuramente ser utilizado no trabalho.
Ø  A emoção deve fluir, e não ser um bloco sólido. E dinâmica e não estática.
Ø  Se o ator compreendeu seu personagem, construiu suas razões internas, se seu relacionamento se ajusta ao de outros personagens, pode-se garantir que qualquer sentimento ou. Emoção que surja vai ser verdadeiro e artístico.
Ø  E difícil atingir um estado fortemente emocional, repentinamente, sem ficar falso.


1055 – Grito silencioso
-          O Grupo sentado gritar sem fazer nenhum som.
-          Grite com os lados do pé, os olhos, as costas, o estomago, as pernas, com o corpo todo.
-          Quando todos estiverem no seu máximo, peça que todos gritem soltando o som.

1056 – incapacidade de mover-se
-          representar uma situação em que está fisicamente imobilizado e assustado por um perigo vindo de fora.
-          Homem paralisado em cadeira de rodas, percebe outra atrás dele.

1057 – Incapacidade de mover-se II
-          Um grupo de pessoas está numa situação onde é impossível mover-se por causa de um perigo exterior.
-          Soldados em meio a um campo de minas.
-          Ladrões escondidos no armário.

1058 – Modificando emoções
-          Após completada uma ação. Repeti-la uma segunda vez, mas com uma ação interior diferente.
-          Uma menina se maquiando para o baile – prazer de ir a festa
-          Segunda ação interior – desapontamento porque soube que o seu ex namorado vai com outra.

1059 – Modificando a intensidade da ação interior
-          A emoção deve iniciar num determinado ponto e tornar-se progressivamente mais forte. De afeição, para amor, para adoração – De desconfiança para medo, para terror. – de irritação para raiva, para fúria.
-          Uma pessoa descobre que foi trocado por outra.

1060 – Emoção em salto
-          Cada ator escolhe alguma mudança radical de ação interior, que planifica anteriormente e introduz na cena. Ex. de medo para heroísmo, para amor, para piedade, etc.
-          Onde – na toca da raposa
-          Quem – dois soldados
-          O que – uma missão perigosa.
-          Mudanças de estados emocionais – de medo para heroísmo, de raiva para compreensão.

1061 – Mostrar emoção por meio de objetos
-          Uma série de objetos no palco. Balão, saco de areia, bola, correntes, triangulo, saca de café, fitas de elásticos, corda, brinquedos, escadas, etc.
-          Usar um objeto escolhido espontaneamente, no momento em que o ator necessitar dele, para mostras um sentimento ou relacionamento.

1062 – Mostras emoção por meio de objetos II
-          Os atores repetem a mesma cena realizada , procurando manter o sentimento dos objetos sem usa-los.

1063 – Jogo de emoção
-          Um ator inicia um jogo que pode ser ampliado para incluir outros atores. Ele comunica onde está – e quem é.
-          Aquilo que vai acontecer com ele deve girar em torno de um desastre, acidente, histeria, pesar. Outros atores entram em cena, como personagens definidos, estabelecendo relacionamento com o onde e quem.
-          Exemplo – Onde – esquina na rua. Quem – velho. O que – carro atropela o homem quando atravessa a rua. O velho tenta várias vezes atravessar a rua. É atropelado pelo carro e cai gemendo no solo. Outros atores entram como motoristas, agentes de polícia, amigos, transeuntes, ambulância...
-          Exemplo – onde – quarto de hospital . Quem – mulher. O que – sentada no leito de um parente que está morrendo

1064 – Rejeição
-          Estabelecer – onde, quem, o que. Os atores devem rejeitar outros atores, adotando os seguintes parâmetros.
-          Um grupo rejeita outro grupo.
-          Um grupo rejeita um individuo.
-          Um individuo rejeita um grupo
-          Um individuo rejeita outro individuo.
-          Exemplo – uma pessoa nova na vizinhança é rejeitado. Alguém é rejeitado por causa de sua raça. Professor substituto é rejeitado pela classe.

1065 – Emoção por meio de técnicas de câmera
-          Estabelecer – o que, quem, onde.
-          De tempos em tempos mudar o ator foco de atenções


Um comentário:

  1. Excelente postagem. Me iluminou sobre uma série de questões sobre a técnica teatral. Contudo, entendo a separação entre teatro e psicodrama como algo análogo à neutralidade científica, isto é, como um norte, um horizonte de "dever ser", que serve para "podar" exageros, mas que nunca se concretiza totalmente, já que a separação entre "eu" e "história pessoal" é impossível.

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