“Iniciação
à arte dramática” - Eugenio Kusnet
Foi grande a influência de Eugenio Kusnet no Brasil, foi
através dele que os profissionais de teatro tomaram conhecimento do Método de
Stanislavski.
Em
1961, por iniciativa do “Teatro Oficina”, começou a lecionar a arte dramática,
tendo organizado um curso para principiantes e atores profissionais.
Vamos
apresentar, em linhas gerais, os assuntos tratados no livro “Iniciação à Arte
Dramática”, onde Eugenio Kusnet trata dos principais pontos da arte de
representar segundo o método de Constantin Stanislavski:
A) A definição de Arte Dramática de acordo com Stanislavski:
“Arte Dramática é a capacidade de representar a vida do
espírito humano em público e em forma artística”.
B) Objetivos do Ator:
1-
Convencer o espectador da realidade do que se imaginou para realização do
espetáculo.
2-
Mostrar o que o personagem quer, o que pensa, para que vive.
3-
Revelar o rico e complicado mundo interior do homem.
4-
Agir como personagem na base da simples lógica da vida real.
C) Objetivos do estudo no Teatro:
Estudar
os processos naturais que regem a ação na vida real transpor isso para o
trabalho do teatro.
Origem do método de Stanislavski: Estudo dos
processos que regem a atuação dos atores inspirados ou geniais (ou das
crianças, que são atores espontâneos). Através da inspiração eles adquirem fé
no que é irreal e são induzidos a agir no irreal, ou seja, agir como
personagem.
AÇÃO: Fator mais importante do teatro.
DRAMA em grego significa ação
ÓPERA em latim significa agir
ATOR significa agente do ato, o
que age.
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A ação é da personagem e não do ator – o ator aceita
os problemas da personagem como se fossem dele próprio e então, para
solucioná-los, age como tal.
Imitar a ação significa estudar as características da ação na vida real para
depois transpô-la ao nosso trabalho no teatro. Características
da ação na vida real:
Para imitar a
ação devemos estudar as seguintes características da ação na vida real:
1. Lógica da ação - a ação sempre obedece à lógica, mesmo que o personagem seja
um alienado mental, do ponto de vista do louco (personagem), existe uma lógica
em suas ações.
2. Contínua e ininterrupta - a ação é sempre contínua
e ininterrupta, nunca deixamos de agir, nem quando dormimos.
Quando o ator
representa a ação ele está no hoje que é conseqüência do movimento do
nosso ontem em direção ao amanhã. Se o ator tem consciência que
cada momento tem suas origens no passado e suas conseqüências no futuro, a ação
se realiza automaticamente e o ator realmente exerce a ação contínua.
Nos intervalos,
saídas de cena e pausas o ator deve se concentrar na ação anterior e posterior,
para não perder a intensidade do personagem.
3. Ação interior (mental) e ação exterior (física) - Existem dois
caminhos para se chegar a um personagem:
De fora para
dentro: Trabalhar com disciplina e esmero todos os detalhes externos
através da observação, da pesquisa e do exercício até conseguir uma reação do
próprio emocional (apoio interior), condizente com a construção externa.
De dentro para
fora: Buscar
o sentimento, a emoção e os pensamentos do personagem usando a lógica e tendo
como medida as próprias observações e experiências da vida real até conseguir
que espontaneamente a ação exterior seja condizente com o que o que foi
construído interiormente.
3. Objetivos da ação - Não existe ação sem objetivo. O
personagem sempre quer alguma coisa. Mesmo no cúmulo da apatia, queremos
não querer alguma coisa e num caso extremo o personagem pode nada querer da
vida e nesse caso tem um objetivo: a morte.
Circunstâncias
Propostas
Saber quem é o personagem em cujo nome estamos agindo:
A) Como ele é: exterior, interior.
B) Onde vive
C) Porque vive
D) De onde veio
E) Porque veio
F) O que quer e o que não quer
Encontraremos as “Circunstâncias Propostas” no texto
da própria peça e o que falta devemos completar com a nossa imaginação, dentro
das características da ação na vida real, que são:
Usar a lógica, evitando toda e qualquer contradição, estar
dentro da seqüência (o ontem, o hoje, o amanhã), descobrir qual é o sentimento,
a emoção (ação interna), e qual é a ação externa, o que o personagem quer ou
não quer que seja um objetivo atraente para despertar a imaginação.
Para usar o que Stanislavski chama de “O mágico Se fosse”,
basta perguntar a si mesmo:
E se eu fosse o
personagem? E se eu estivesse nessa situação e dentro dessas circunstâncias
propostas pelo autor da peça?
Se for usado com
correção “O mágico Se” desperta a vontade de agir na cena, mas se for
necessária uma maior motivação, procure se visualizar agindo no lugar do
personagem, materialize os seus pensamentos na forma de uma visão interna, chegando
a ver a si próprio agindo.
Circunstâncias propostas
Visualização da
cena O mágico “Se Fosse”
ATENÇÃO CÊNICA
O que Stanislavski chama de Atenção Cênica é focalizar os
objetivos do personagem, interessar-se por eles e achá-los atraentes, por isso
devemos dirigir nossa atenção para os detalhes mais motivadores e excitantes da
ação.
CÍRCULOS DE
ATENÇÃO
A atenção cênica com seus “Círculos de Atenção” leva o ator
ao “Contato e Comunicação” com o ambiente, com todos os elementos do
espetáculo.
O ator deve manter o contato o tempo todo. Não pode ser
considerado um profissional o ator que faz brincadeiras fora da ação, resolve
“descansar” em cena porque não faz parte do diálogo do momento, ou em vez de
ouvir fica preocupado com a próxima fala, ou com a maneira de representar de um
colega ou procurando contato com a platéia, apenas por vaidade, abandonando o
personagem. É claro que o ator não desaparece ao encarnar um papel, ele apenas
aceita todos os problemas e objetivos do personagem, aceita as
responsabilidades e adquirindo através a fé na realidade da exist6encia do
personagem, age e vive como se fosse ele.
Quando os olhos do ator se dirigem para um objeto e realmente
o vêem, atraem a atenção do espectador e indicam-lhe o que ele deve olhar. Um
olhar vago permite que a atenção do espectador se desvie do palco.
AÇÃO
LÓGICA DA AÇÃO
AÇÃO CONTÍNUA
AÇÃO INTERNA
AÇÃO EXTERNA
OBJETIVO DA AÇÃO
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Podemos nos concentrar no:
Pequeno círculo
de atenção
Médio círculo de
atenção
Grande círculo
de atenção
Se o ator começa a se desconcentrar, com barulhos ou ações
externas, deve recuar para o pequeno círculo de atenção e “levá-lo”
consigo na cena como se ele fosse um spot-light acompanhando o ator, para
conseguir retomar o contato com o personagem.
Com
a experiência, a maior parte da nossa atenção fica automática, o período mais
difícil é as primeiras fases do aprendizado. O talento sem o trabalho nada mais
é do que matéria prima sem acabamento, no estado bruto.
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