segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Atividades - Desenvolver o Personagem

JOGO DRAMÀTIGO

A técnica de representar nunca poderá ser profundamente entendida sem pratica-la.

Michael Chekhov



Essencialmente, o jogo dramático caracteriza-se pelo aspecto imaginário de "faz de conta" e pela presença de personagens vivendo situações dramáticas. Usamos aqui a expressão "dramáticas" como sinônimo de teatrais, e não como antônimo de cômicas.
O jogo dramático é sempre improvisado - dai podermos usar como expressão equivalente à palavra improvisação. Num trabalho inicial de preparação para atores, usamos com mais freqüência a expressão jogo dramático para salientar seu caráter de espontaneidade e ludicidade.
Outro ponto muito importante que deve ser tocado nesta abordagem inicial é o fato de que um jogo dramático não deve ser proposto com começo, meio e fim previamente determinados. Apenas o começo deve ser proposto; o meio e o fim vão decorrer espontaneamente da atuação dos alunos.
Procuramos sempre entrar no terreno do jogo dramático sem explicações prévias. Damos o primeiro jogo e, então, os alunos comentam, criando a oportunidade de teorizarmos sobre o trabalho.

1111 – A formiga imaginaria
Pedimos aos alunos que, um a um, observem uma for­miga imaginaria localizada cm urna cadeira colocada no meio da sala.

·  Para realizar o jogo, nenhum dos alunos se limita a ficar de pé ou imóvel. Eles se abaixam, observando a trajet6ria da formiga na parte de baixo do assento da cadeira, brincam com ela, criando com os dedos obstáculos ao passeio da formiga. Enfim, de diversas formas, atuam como se ela realmente existisse.
Mostramos, então, que neste jogo tão simples estão contidos os dois elementos fundamentais do teatro: imaginação e concentração, e que eles já se portaram como personagens, pois não existia nenhuma formiga e eles procuraram dar veracidade, portanto, a uma situação nítida de "faz de conta" teatral. Representaram urna pessoa que estaria observando e atuando como se a formiga existisse. Muitas vezes, alguns alunos reagem à idéia de já estarem vivendo personagens, pois acham que eram eles mesmos que agiam. Argumentamos, então, que um personagem pode ser altamente elaborado, com as mais variadas características, ou ser muito semelhante a eles mesmos. Em sua futura carreira de ator, muitas vezes eles irão representar papéis de jovens, com características idênticas às deles, e nem por isto deixarão de ser.


Personagens. Acresce que eles viveram urna verdadeira situação teatral, pois a formiga, cm verdade, não existia e muito menos passeava ou mordia.


1112 – Entrevista Personagem
Para contrastar, passamos a um jogo em que eles vão criar coletivamente um personagem com o Maximo de especificações. Cada aluno dará uma característica física, ou de personalidade, ou de caráter.
Uma vez elaborado o personagem, mostramos que ainda faltam muitas características importantes para fugir da generalidade e atingir o especifico.
Há, então, a chance de entrevistarmos o personagem. Um aluno se senta separado e procura, sem interpretar, responder racionalmente, pelo personagem, às indagações vindas do grupo. Quando as respostas do entrevistado não são consideradas adequadas, discute-se por que, até eles chegarem a um consenso.

·  Na parte da entrevista, saliento sempre que os alunos não devem fazer perguntas automaticamente, nem por brincadeira, mas deve refletir sobre pontos que ainda não foram suficientemente esclarecidos para se compreender profundamente aquela pessoa. Outro aspecto que costumamos esclarecer é o de que devam evitar caçoar ou agredir o personagem. Por incrível que pareça, isto é muito comum.


Construção do Personagem

Na avaliação que ocorre após o último jogo, procuramos mostrar que a estrutura de um personagem deve ser algo feito detalhadamente, com o maior cuidado na determinação das suas características externas e internas para se evitar, ao máximo, o aparecimento de clichês (es­tere6tipos).

1113 – Criar um personagem sorteado
Propositadamente, damos a seguir um jogo em que, se os alunos não refletirem e não fizerem uma elaboração minuciosa, cairão, certamente, em personagens estereotipados. São sorteados três entre cinco ou seis papéis aonde vem escrito: rei - mendigo - padre - soldado – operário - sábio.
Os três alunos que tiraram o papel com indicação do seu personagem se isolam e passam a refletir sobre ele, procurando partir do geral para o especifico.
Na fase seguinte descrevem oralmente o que cada um elaborou em relação ao seu personagem e, depois, os três têm que, rapidamente, elaborar uma situação dramática em que os três possam relacionar-se.
Em seguida, improvisam a cena elaborada.

·  Muitas vezes é necessário que um ou dois aceitem modificar alguma coisa de seu personagem, para que os três possam integrar-se em urna situação teatral.

1114 – Três personagens - criar inter-relação
Participam três alunos, o primeiro descreve, em voz alta, o seu personagem, com o máximo de precisão de detalhes.
Os outros dois, então, elaboram e descrevem os seus e o relacionamento entre eles e o primeiro.
Os três criam e realizam uma improvisação.


1115 – Personagem Estranho
Ainda participam três alunos, só que, agora, o primeiro não só elabora mentalmente o seu personagem como os dos outros dois e a situação dramática. Mas guarda segredo, e a ação começa sem que os dois alunos saibam quem são e quem é o primeiro personagem. No decorrer da improvisação é que começam a perceber quem são e seu relacionamento com o primeiro personagem.


·  Neste último jogo entrou um elemento altamente contrastante com o que temos considerado fundamental: personagens meticulosamente preparados.
Aqui surgem dois que não são nem conhecidos de seus intérpretes. Por que?
A razão é muito simples: é necessário, também, desenvolver o intuitivo, saber realmente ouvir o parceiro de cena e não simplesmente escuta-lo. Os dois personagens, na sua ignorância e no afã de descobrir quem são, usam o machismo de concentração nas falas e ações do primeiro personagem. Muitas outras vezes, os alunos terão oportunidade de criar seus personagens com um mínimo de tempo. A avaliação que vier depois do trabalho realizado dará oportunidade de discutir possíveis inadequações eventuais, possibilitando urna profunda conscientização do que se ajustaria melhor ao jogo.

1116 – Personagem Estrangeiro
Três ou quatro alunos combinam personagens e situação dramática, mas terão de atuar não pronunciando frases cm português, mas sim numa língua inventada por eles.


1117 – Personagem de uma palavra
Semelhante ao anterior, s6 que agora os alunos s6 usarão, a mesma palavra para significar todas as que usariam para transmitir suas idéias.


1118 – Personagem falando números
Ainda muito semelhante aos dois que o antecedem. Ago­ra, ao invés de palavras, os alunos usarão números.

·  Com estes três últimos jogos, quisemos mostrar que as palavras por si só não significam tudo. Através do tom e das inflexões que as intenções são transmitidas verdadeiramente.
Nestes exercícios também ficou demonstrada a necessidade de desenvolver o "'ouvir", ao invés do "escutar", o "dizer", ao invés do "falar".



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