JOGO DRAMÀTIGO
A técnica de representar nunca poderá ser profundamente
entendida sem pratica-la.
Michael Chekhov
Essencialmente, o jogo dramático caracteriza-se pelo aspecto imaginário
de "faz de conta" e pela presença de personagens vivendo situações
dramáticas. Usamos aqui a expressão "dramáticas" como sinônimo de
teatrais, e não como antônimo de cômicas.
O jogo dramático é sempre improvisado - dai podermos usar como
expressão equivalente à palavra improvisação. Num trabalho inicial de
preparação para atores, usamos com mais freqüência a expressão jogo dramático
para salientar seu caráter de espontaneidade e ludicidade.
Outro ponto muito
importante que deve ser tocado nesta abordagem inicial é o fato de que um jogo
dramático não deve ser proposto com começo, meio e fim previamente
determinados. Apenas o começo deve ser proposto;
o meio e o fim vão decorrer espontaneamente da atuação dos alunos.
Procuramos sempre entrar no terreno do
jogo dramático sem explicações prévias. Damos o primeiro jogo e, então, os
alunos comentam, criando a oportunidade de teorizarmos sobre o trabalho.
1111 – A formiga
imaginaria
Pedimos aos alunos que, um a um,
observem uma formiga imaginaria localizada cm urna cadeira colocada no meio da
sala.
· Para realizar
o jogo, nenhum dos alunos se limita a ficar de pé ou imóvel. Eles se abaixam,
observando a trajet6ria da formiga na parte de baixo do assento da cadeira,
brincam com ela, criando com os dedos obstáculos ao passeio da formiga. Enfim,
de diversas formas, atuam como se ela realmente existisse.
Mostramos, então, que
neste jogo tão simples estão contidos os dois elementos fundamentais do teatro:
imaginação e concentração, e que eles já se portaram como personagens, pois não
existia nenhuma formiga e eles procuraram dar veracidade, portanto, a uma
situação nítida de "faz de conta" teatral. Representaram urna pessoa
que estaria observando e atuando como se a formiga existisse. Muitas vezes,
alguns alunos reagem à idéia de já estarem vivendo personagens, pois acham que
eram eles mesmos que agiam. Argumentamos, então, que um personagem pode ser
altamente elaborado, com as mais variadas características, ou ser muito
semelhante a eles mesmos. Em sua futura carreira de ator, muitas vezes eles
irão representar papéis de jovens, com características idênticas às deles, e
nem por isto deixarão de ser.
Personagens. Acresce que eles viveram urna verdadeira situação teatral,
pois a formiga, cm verdade, não existia e muito menos passeava ou mordia.
1112 –
Entrevista Personagem
Para contrastar, passamos a um jogo em que eles vão criar coletivamente
um personagem com o Maximo de especificações. Cada aluno dará uma
característica física, ou de personalidade, ou de caráter.
Uma vez elaborado o personagem, mostramos que ainda faltam muitas
características importantes para fugir da generalidade e atingir o especifico.
Há,
então, a chance de entrevistarmos o personagem. Um aluno se senta separado e procura,
sem interpretar, responder racionalmente, pelo personagem, às indagações vindas
do grupo. Quando as respostas do entrevistado não são consideradas adequadas,
discute-se por que, até eles chegarem a um consenso.
· Na parte da
entrevista, saliento sempre que os alunos não devem fazer perguntas
automaticamente, nem por brincadeira, mas deve refletir sobre pontos que ainda
não foram suficientemente esclarecidos para se compreender profundamente aquela
pessoa. Outro aspecto que costumamos esclarecer é o de que devam evitar caçoar
ou agredir o personagem. Por incrível que pareça, isto é muito comum.
Construção do Personagem
Na avaliação que
ocorre após o último jogo, procuramos mostrar que a estrutura de um personagem
deve ser algo feito detalhadamente, com o maior cuidado na determinação das
suas características externas e internas para se evitar, ao máximo, o
aparecimento de clichês (estere6tipos).
1113 – Criar um personagem sorteado
Propositadamente, damos
a seguir um jogo em que, se os alunos não refletirem e não fizerem uma
elaboração minuciosa, cairão, certamente, em personagens estereotipados. São
sorteados três entre cinco ou seis papéis aonde vem escrito: rei - mendigo -
padre - soldado – operário - sábio.
Os três alunos que tiraram o papel com indicação do seu personagem se
isolam e passam a refletir sobre ele, procurando partir do geral para o
especifico.
Na fase seguinte descrevem oralmente o que cada um elaborou em relação
ao seu personagem e, depois, os três têm que, rapidamente, elaborar uma
situação dramática em que os três possam relacionar-se.
Em seguida, improvisam a
cena elaborada.
· Muitas vezes é
necessário que um ou dois aceitem modificar alguma coisa de seu personagem,
para que os três possam integrar-se em urna situação teatral.
1114 – Três
personagens - criar inter-relação
Participam três alunos, o primeiro descreve,
em voz alta, o seu personagem, com o máximo de precisão de detalhes.
Os outros dois, então, elaboram e descrevem
os seus e o relacionamento entre eles e o primeiro.
Os três criam
e realizam uma improvisação.
1115 – Personagem Estranho
Ainda
participam três alunos, só que, agora, o primeiro não só elabora mentalmente o
seu personagem como os dos outros dois e a situação dramática. Mas guarda
segredo, e a ação começa sem que os dois alunos saibam quem são e quem é o
primeiro personagem. No decorrer da improvisação é que começam a perceber quem
são e seu relacionamento com o primeiro personagem.
· Neste último
jogo entrou um elemento altamente contrastante com o que temos considerado
fundamental: personagens meticulosamente preparados.
Aqui
surgem dois que não são nem conhecidos de seus intérpretes. Por que?
A
razão é muito simples: é necessário, também, desenvolver o intuitivo, saber
realmente ouvir o parceiro de cena e não simplesmente escuta-lo. Os dois
personagens, na sua ignorância e no afã de descobrir quem são, usam o machismo
de concentração nas falas e ações do primeiro personagem. Muitas outras vezes,
os alunos terão oportunidade de criar seus personagens com um mínimo de tempo.
A avaliação que vier depois do trabalho realizado dará oportunidade de discutir
possíveis inadequações eventuais, possibilitando urna profunda conscientização
do que se ajustaria melhor ao jogo.
1116 –
Personagem Estrangeiro
Três ou
quatro alunos combinam personagens e situação dramática, mas terão de atuar não
pronunciando frases cm português, mas sim numa língua inventada por eles.
1117 – Personagem de uma palavra
Semelhante
ao anterior, s6 que agora os alunos s6 usarão, a mesma palavra para significar
todas as que usariam para transmitir suas idéias.
1118 – Personagem falando números
Ainda muito
semelhante aos dois que o antecedem. Agora, ao invés de palavras, os alunos
usarão números.
· Com estes três últimos jogos,
quisemos mostrar que as palavras por si só não significam tudo. Através do tom
e das inflexões que as intenções são transmitidas verdadeiramente.
Nestes exercícios também ficou demonstrada
a necessidade de desenvolver o "'ouvir", ao invés do
"escutar", o "dizer", ao invés do "falar".
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