1370 – Para um relacionamento mais
fraterno
Um relacionamento humano mais fraterno acontece
quando tomamos em conta, entre outras, as seguintes ponderações:
1.Amar
É uma lei humana, tão certa como a da gravidade:
para vivermos plenamente, precisamos aprender a usar as coisas e amar as
pessoas, e não amar as coisas e usar as pessoas.
2. Saber dar importância aos
outros
Deve-se dar importância aos
outros como pessoa e não como objeto. Eu dou importância ao outro, eu amo o
outro porque há nele um bem absoluto, objetivo. Posso até não concordar com sua
ação; o que ele faz pode ofuscar sua bondade objetiva; posso, então, rejeitar
seu comportamento, mas isso não me dá o direito de rejeitá-lo como pessoa. A
pessoa deve ser amada pelo que é, não pelo que faz e, inversamente, podemos
rejeitá-lo por aquilo que faz, mas nunca por aquilo que é.
3. Julgar
Talvez se devesse inserir
uma palavra sobre a diferença entre julgar uma pessoa e uma ação. Se vejo
alguém roubando o dinheiro de outra pessoa, posso julgar que essa ação é
moralmente errada, mas não posso julgar a pessoa. É tarefa de Deus, não
minha, ou seja, julgar a responsabilidade humana. Entretanto, se não pudéssemos
julgar uma ação como certa ou errada isso seria o fim de toda moralidade
objetiva. Não podemos concordar com a idéia de que não existem coisas erradas
ou certas, que tudo depende da maneira como você encara as coisas. Mas julgar a
responsabilidade do outro é brincar de Deus.
4. Ser compreendido e amado
É uma outra lei tão certa
como a da gravidade: aquele que é compreendido e amado crescerá como pessoa;
aquele que é rejeitado morrerá sozinho em sua cela de confinamento solidário.
Para compreender as pessoas
deve-se tentar escutar o que elas não estão dizendo, o que elas talvez nunca
venham a dizer.
5. Semear
Semear, plantar com fé, com
amor e esperança, sem a menor presunção de colher frutos das sementes
plantadas. Fomos enviados para semear e não para ceifar; para plantar e não
para colher. Hoje colhemos os frutos de sementes que outros plantaram e amanhã
outros colherão frutos de sementes que nós plantamos.
6. Ser generoso em elogiar
Saber elogiar é uma arte. É
preciso elogiar o que merece ser elogiado, isto é, aquilo em que o outro tem
algum mérito. Devemos ser cautelosos em criticar. Importa descobrir algum
motivo de elogio, naquilo que outros são e fazem.
7. Manter-se calmo e ser
paciente
Manter-se calmo, sereno, é
cultivar uma personalidade agradável. Ser sempre paciente, ter tempo para os
outros, sem demonstrar enfado ou cansaço. «A caridade é paciente»...
8. Ser severo com o erro
Ser severo com o erro, mas
extremamente indulgente com a pessoa que errou. O coração misericordioso atrai,
conquista e desperta no outro o desejo de recuperar-se.
Não ter medo de reconhecer o
próprio erro e voltar atrás. Errar e reconhecer o erro é conquista. Errar e
perseverar no erro é derrota.
9. Usar de bondade, mansidão
e perdão.
O que não se consegue com
excesso de bondade, muito menos com excesso de severidade. Amor, bondade,
perdão e mansidão poderão fazer com que o mau se torne bom e o bom se torne
cada vez melhor.
10. Cultivar a arte de dialogar
O melhor conselheiro
geralmente é aquele que melhor sabe escutar. Diálogo é intercâmbio, encontro de
pessoas. Ambas as pessoas devem fazer uso do direito de falar e cumprir a
obrigação de escutar. Trata-se de uma necessidade teológica para se conhecer as
várias manifestações da vontade de Deus antes de tomar uma decisão.
O diálogo é uma comunicação
que tem por finalidade o descobrimento de uma verdade importante para o
crescimento pessoal e a vida dos indivíduos que dialogam.
11. Evitar a contestação farisaica
É fácil contestar as
atitudes, criticar as idéias dos outros e condenar os erros que outros
praticam. É fácil cair na atitude farisaica de que o errado é sempre o outro.
Criticar os outros é uma maneira pouco decente de se elogiar a si mesmo. Se
cada um limpasse a rua diante da própria casa, a cidade toda estaria limpa. Se
cada qual corrigisse os próprios erros, a humanidade toda estaria em grande
progresso.
12. Dizer muito obrigado
Todos já reparamos como as
pessoas agradecem. Às vezes com simplicidade, humildade, verdadeiro
reconhecimento, contudo, nem sempre isso ocorre. Há pessoas que agradecem,
movidas por razões tão diferentes. Assim:
A - Por educação: sem a participação interior. Quando uma criança
recebe um presente, e não agradece, logo a mãe diz: «Como se diz»? E a criança
agradece, dizendo: MUITO OBRIGADA. Se não damos um passo a mais, levados
unicamente pelas boas maneiras, corremos o risco do agradecimento formal,
frio, social. Nem sempre aprendemos no passado a colocar nas palavras o nosso
coração reconhecido.
B - Por dever: muita gente agradece por ofício, por dever. Como bom
funcionário deve agradecer ao cliente. Assim ocorre no Banco, no Mercado, na
Loja. Curioso é o coração humano: mesmo sabendo que é atraído pelo consumismo,
ele gosta de ser tratado e acolhido bem.
C - Com amor. Isso acontece quando amamos aquele que nos ama e deste
encontro do «eu» e do «tu» nasce a GRATIDÃO por tudo. É a gratidão que envolve
e compromete, semelhante ao filho junto ao pai. Gratidão que gera
reciprocidade, comunhão, participação de vida.