segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Teatro para quem nunca fez teatro

 Teatro Para Quem Nunca Fez Teatro

(Tenê de Casa Branca

Teatro amador e suas frustrações internas

 

TEATRO AMADOR E SUAS FRUSTRAÇÕES INTERNAS

 

Escrito por Betho Ragusa

Diante dos artigos publicados aqui no Oficina de Teatro e a vasta informação que eles transmitem, posso dizer-lhes que aplico na vida pessoal e na minha pequena Cia de Teatro Amador. E por falar em teatro amador, já li aqui vários artigos que falam sobre isso, seu valor não reconhecido, a escassez de dinheiro entre outros obstáculos.

 

Há seis anos iniciamos (digo iniciamos porque são três os responsáveis pela Cia desde então) um trabalho teatral na cidade de São João da Boa Vista, interior de São Paulo e não é crítica, mas levar o público para o teatro em minha cidade é uma missão quase impossível, portanto sempre produzimos comédia. Nossas técnicas ainda primárias vão sendo aprimoradas através de workshops, palestras, o Projeto Ademar Guerra muito conhecido no Estado de São Paulo, o Festival de teatro que acontece sempre no mês de agosto de cada ano com a presença de jurados que criticam, elogiam, trazem idéias e fornecem material de pesquisa para os grupos participantes e claro, a necessária prática, se é que esta nos leva realmente a perfeição.

 

Como amante da arte, minha preocupação é sempre levar para o palco comédias inteligentes sem a necessidade de usar palavrões que automaticamente arrancam risadas da platéia.

 

Neste mês, exatamente no dia vinte e três fazemos seis anos e o problema principal além de tantos outros que conhecemos de um grupo amador é a falta de comprometimento dos atores. Com o tempo descobrimos que muitos entram na Cia para aparecer, exibir um talento circense ou para perder a timidez, tem ainda aqueles que entram porque a mãe ou pai viram nosso trabalho e pedem para que o filho freqüente nossos ensaios e muitos outros motivos que acabam desestruturando o elenco.

 

Isso me entristece porque fico o ano todo pesquisando outras peças e me inspirando para escrever algo teatralmente decente. Quando chega à época que iniciamos o próximo projeto do ano, todos estão animados, fazem testes e aquele ator fica com a responsabilidade de interpretar tal personagem. Teoricamente é isso que deveria acontecer, mas faltando três meses para a estréia ele chega e diz que foi promovido no trabalho e que de agora em diante não poderá mais comparecer aos ensaios. Outras desculpas também são declaradas como “o namorado não deixa mais”, “minha mãe não pode mais ficar sozinha” e “não estou tendo tempo para nada”.

 

Respiro fundo, restam sete integrantes que ainda levam a sério e é preciso remanejar, alterar texto de uma forma geral e se adequar ao elenco restante. Nessa hora também é injetada altas doses de criatividade, coisa que diga se de passagem nada difícil para um ator e finalmente aquela lacuna é preenchida.

 

Tudo tem o lado bom e ruim e a melhor parte é que nestes anos nunca cancelamos sequer uma apresentação por causa desses faltosos e irresponsáveis para com a arte, afinal, ela deve ser levada a frente e nosso trabalho tem que continuar.

 

E mudando de assunto, espero que eu não tenha saído tão mal em meu primeiro artigo.

 

O amador é quem faz o teatro

 

O amador é quem faz o teatro

 

Escrito por Paulo Sacaldassy

Por mais que procurem não dar importância e, às vezes, até menosprezar o teatro feito de forma amadora, é preciso deixar claro que se comete a maior das injustiças, pois é justamente entre os amadores, que a arte de fazer de Teatro, respira e se revigora dia-a-dia. É no Teatro amador que a arte se preserva e onde se é capaz de ver brotar novos atores de verdade.

 Porque é no teatro amador que se vive de fato, toda a dificuldade que se tem para colocar um espetáculo em cartaz, a necessidade de se custear a produção, de viabilizar a montagem, muitas vezes com recursos ínfimos e escassos e compartilhados pelos integrantes do grupo. E é no teatro amador que se aprende a abdicar da própria vida em favor da arte.

 

Não podemos renegar, diminuir, ou até mesmo desdenhar de quem faz teatro de uma forma amadora devemos sim, louvá-los, pois, todos eles, são desprendidos de quaisquer outros valores, e, levam muito mais em conta a coisa artística do que o lado financeiro, e, em nome do teatro, preocupam-se apenas em mostrar a grandeza na arte de interpretar, esperando apenas alguns sinceros aplausos.

 

Muito me entristece quando desqualificam e diminuem os esforços destes “dom quixotes” do teatro, pois não leva-se em conta, nem mesmo a boa intenção de mostrar a arte do Teatro. É claro que muitos tem defeitos e mostram deficiência nas suas apresentações, mas, precisamos aprender a enxergar em cada uma dessas apresentações, a semente do teatro germinado, que, por certo, mante-rará viva a cultura teatral.

 Seja na escola, na igreja, na associação de classe, a iniciativa de levar a arte do teatro para as pessoas, deve ser respeitada, pois, mesmo que não haja a mesma qualidade que se espera e que se encontra em produções de quem vive da arte do Teatro, a intenção de preservar a magia que a arte de interpretar desperta nas pessoas, precisa ser levada em conta.

 Somente com a preservação do Teatro amador, onde se planta a semente do fazer teatral, que o Teatro sobreviverá. Quem achar que a má qualidade de quem produz teatro de forma amadora pode contribuir para a desvalorização da arte, pode estar comentando um grande equívoco, pois, que atire a primeira pedra, aquele que hoje é um artista famoso, que no início de sua carreira, não fez parte de um grupo amador.

 O Teatro amador precisa ser respeitado e incentivado, ao invés de ser desqualificado e desprestigiado. Quem sabe, a contribuição dos que hoje já são unanimidades do meio teatral, não venha fortalecer e fazer com que o Teatro Amador continue sendo o grande celeiro de novos talentos do teatro nacional?