Eu gosto mesmo é de gente esquisita
POR RUTH MANUS
Gente esquisita, aqui, talvez
seja gente completamente normal. Normal mas não clichê. Normal mas não padrão.
Afinal, será que há gente normal?
Não tem jeito. Eu
gosto mesmo é de gente esquisita. Dos pontos fora da curva, dos que vivem fora
da casinha. Não precisa ter cabelo verde (se tiver, acho ótimo também), mas
acho que gosto de gente inesperada.
Gente esquisita,
aqui, talvez seja gente completamente normal. Normal mas não clichê. Normal mas
não padrão. Afinal, será que há gente normal? Gosto de gente que não tem medo
de destoar, que não se deixa escravizar por regras e aparências. Talvez seja
isso. Gente diferente de mim, diferente de todo mundo.
Talvez não seja
gente esquisita, seja gente de diferente. Não sei. Mas acho simpático ser
esquisito. Gostaria que me achassem esquisita.
Gosto de gente que
trabalha com coisas que eu nunca ouvi falar. Que mora em lugares onde eu nunca
fui. Que me conte histórias que eu nunca ouvi. Gosto de gente que acrescenta.
Gosto de gente que
usa roupa estranha. Roupa completamente fora da moda, ou completamente dentro
dela, mas por escolha. Não por medo de ser julgado, por medo dos olhares
alheios.
Gosto de gente que
não se assombra quando eu digo que adoro passear em cemitérios, sentar num
banquinho, ler um bom livro. Gosto de gente que me deixa surpresa quando me
conta do que gosta e me deixa pensando que talvez seja uma boa ideia tentar. Ou
não.
Gosto de homens de
rabo de cavalo, de mulheres de cabelo curtinho. Gosto de cabelo completamente
descolorido. De moicano. De dreads. De cabelo crespo imenso. De peruca roxa. De
lenço colorido em cima da careca. Também gosto de cabelos comuns, cobrindo cabeças
incomuns.
Gosto de gente que
quase não fala, que parece muda. Que parece esconder segredos e histórias
obscuras. Gente misteriosa. Gosto de gente que fala sem parar, que traz coisas
novas, que eu nunca descobriria sozinha. Gente transparente.
Gosto de gente que
coloca uma mochila nas costas, diz que tá indo e não faz a menor ideia de
quando volta. Gosto de gente que diz que não vai porque precisa ficar aqui
trabalhando num projeto novo no qual se meteu, morrendo de medo e cheio de
coragem.
Gosto de gente que
diz, tranquilamente, que nunca vai casar. Gosto de gente que diz que vai casar
e fazer uma festa estranha com gente esquisita. Gosto de gente que não faz a
menor ideia do que vai fazer. Gosto de gente que decide não ter filhos. Ou que
decide ter 7. Ou que decide ter 2, pelo simples fatos de querer ter 2 e não
porque o senso comum diz que ter 2 é o atual padrão de família sensata.
Gosto de rapazes
que namoram rapazes. De moças que namoram moças. De rapazes que namoram moças e
acham normal que haja rapazes que namoram rapazes. De moças que namoram
rapazes, mas que também já tenham namorado moças. Gosto de moças que parecem
rapazes e de rapazes que parecem moças. Gosto de rapazes e moças que sabem que
não é tão importante classificar as pessoas em rapazes ou moças. Gosto de gente
livre.
Gosto de gente que
come insetos. Que come orelha de porco. Gosto de gente vegana. Gosto de gente
que não come glúten. Gosto de gente que me conte porque optou por ser assim e
que não encha meu saco se eu continuar sendo diferente. Gosto de quem continua
comendo farinha láctea depois de adulto.
Gosto de pessoas
que não têm nada a ver comigo. De pessoas que não têm nada a ver com ninguém.
Ou de pessoas parecidas com todo mundo, mas com ideias que não têm nada a ver
com as que já conheço. Gosto de gente velha com cabeça nova, de gente nova com
serenidade velha.
Gosto de tudo aquilo que não sou eu
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