quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Concentração

 

    CONCENTRAÇÃO

 É um estado mental caracterizado pela fixação da atenção em relação a um objeto.

 A palavra objeto utilizada aqui, refere-se a tudo aquilo que pode ser vivenciado pela mente humana: coisas, pessoas, idéias, sentimentos, sensações, interesses, visões e demais experiências do gênero.

  

·      CARACTERÍSTICAS  DA  CONCENTRAÇÃO

Seu processo caracteriza-se pela fixidez da atenção num determinado conteúdo psíquico.

 

Só ocorre plenamente, quando a mente consegue livrar-se de todas as sensações provocadas por estímulos externos e das vivências interiores, que não tem nenhum tipo de relação com o objeto da concentração. Para que haja concentração é necessário que ocorra atenção e silêncio interior.

 

 ·      DETERMINAÇÃO  DA  CONCENTRAÇÃO

 

A determinação da concentração é dada por um interesse por parte do  indivíduo, em integrar-se ao objeto da concentração e compreendê-lo  a fundo . Essa compreensão é dada quando o percebedor sente o objeto, na sua integração com o mesmo. Portanto, sua determinação é dada pela motivação de se integrar e sentir a algo ou alguém. 

 

 ·      FATORES CONTRÁRIOS À CONCENTRAÇÃO

 São aqueles fatores que impedem ou dificultam a concentração. Dividem-se em externos e internos.

 

Fatores Externos:

1 - ruídos e sons em tome elevado ou que perturbem quem se concentra;

2 - toques físicos provocadores de dor ou prazer;

3 - iluminação inadequada: forte ou fraca, ao que se está fazendo;

4 - envolvimento espiritual perturbador.

 

Fatores Internos:

1 - tensões e dores físicas que perturbem a concentração;

2 - distração inconsciente, não percebida, que ocorre nos momentos de concentração;

3 - cansaço gerando a necessidade de repouso;

4 - falta de informações de como se concentrar;

5 - indisciplina interior fazendo com que o indivíduo se ocupe de muitos pensamentos ao   mesmo tempo, impedindo-o de atingir determinado fim;

6 - perturbações afetivo-emocionais dadas por problemas pessoais, que levam o          indivíduo a preocupar-se ou ficar ansioso nos momentos de concentração;

7 - sentimento de tédio durante a prática da concentração, fazendo com que o indivíduo faça uso naturalmente de sua imaginação.

 

 ·      TREINAMENTO  DA  CONCENTRAÇÃO

É um conjunto de práticas que ajudam a desenvolver a capacidade de concentração.

 Há cinco conceitos básicos a serem seguidos, os quais contêm várias práticas:

 

1)  Consciência da Concentração

A) Aquisição de informações sobre a concentração:                         

no momento em que se sabe como se concentrar, torna-se mais fácil  a tarefa de concentração, pois o conhecimento “é a luz que ilumina” o caminho do homem;

B) Percepção da desatenção no momento da concentração:

é comum, na prática da concentração, a ocorrência da desatenção involuntária. Com a percepção  desses momentos, torna-se mais fácil a correção desses erros.

 

     2) Relaxamento

O relaxamento é uma prática psicossomática, que permite a cada um adentrar no estado  eutonia, isto é, de equilíbrio, das tensões físicas e mentais. Serve, portanto, para ajudar na elaboração de um estado geral de equilíbrio, que favorece a obtenção de uma maior  concentração. Isto se dá porque quando um indivíduo está tenso, agitado ou perturbado emocionalmente, bem como rígido ou ainda sentindo dores físicas, não consegue na sua plenitude, ligar-se ao objeto da concentração.

Assim sendo, para que haja um relaxamento integral, é necessário que se atinja os três aspectos que compõem totalidade psicossomática: corporal, emocional e intelectual.

 

Descrevemos a seguir as três etapas que devem compor um relaxamento integral.

 

1.ª Fase

Corporal

Aqui pretende-se conseguir um equilíbrio do tônus (tensão) muscular.

É necessário para que o indivíduo consiga livrar-se das dores tensionais, tendo as condições básicas para o descanso e equilíbrio interno.

Técnica

Concentrar-se em cada parte do corpo, gradativamente, auto sugerindo a descontração de cada uma dessas partes.

Convém, começar numa parte do corpo, por exemplo, a cabeça ou os pés e ir até a outra extremidade.

Ao final, perceber todo o organismo nesse mesmo estado.

 

2.ª Fase

Emocional

Nesta fase deseja-se o estabelecimento do equilíbrio afetivo-emocional, dando tranqüilização ao espírito.

Com o restabelecimento paz interior a mente se aquieta e com isso torna-se muito simples a tarefa de concentração.

Técnica

Induzir a respiração com movimentos abdominais, lenta e compassadamente, de forma idêntica à que acontece durante o sono normal.

 

 3.ª Fase

Intelectual

Nesta etapa o que se pretende é a manutenção da mente num estado de , maior quietude, no qual são evitados os pensamentos contínuos que, normalmente, povoam o quadro mental das pessoas.

Técnica

Fixar a atenção numa imagem, som, ponto ou sensação orgânica (tal como a respiração), sempre sugerindo a calma, a mansuetude e o equilíbrio.

Isto dá condições para que se rompam alguns “círculos viciosos” do pensamento ou idéias fixas, que caracterizam o próprio monoideísmo.

 

3) Auto-Análise (Autoconhecimento)

Visa, sobretudo, dar condições para que cada pessoa possa livrar-se de preocupações e ansiedades que, normalmente, prejudicam o exercício da concentração.

Técnica

Iniciar esta prática com perguntas, tais como:

- o que estou sentindo agora?

- o que espero?

- o que desejo?

- o que estou fazendo?

- o que evito?

Todas elas devem ser feitas, com o sentido voltado exclusivamente para o momento presente.

A partir dessa conscientização, torna-se possível e até necessário, o controle das emoções e desejos, com o afastamento, pelo menos momentâneo, das preocupações.

 

A auto-análise pode ser de dois tipos,  a saber:

 

A) Referente aos problemas vitais

Vários são os problemas que afligem a nossa existência.

São dificuldades familiares, sexuais, religiosas, econômicas, sociais etc. Cada um de nossos problemas possui uma carga afetivo-emocional determinada, mais ou menos controlada, que no seu conjunto geram um grau maior de perturbação na existência.

A nossa perturbação vital é conseqüência do acúmulo de nossos problemas vitais.

Uma pessoa tem alguns ou vários problemas não resolvidos, sofre de uma carga afetivo-emocional mais ou menos intensa. Isto gera preocupações constantes, que podem ocorrer até no momento da concentração, prejudicando-a na prática dessa atividade.

A resolução dessa problemática se dá através da conscientização. Esta ocorre pela percepção dos sentimentos, atitudes e desejos. As indagações já mencionadas anteriormente, gera uma descarga ou “desabafo” das emoções reprimidas. Com isto a pessoa torna-se mais calma, tendo condições de refletir eficazmente sobre os seus problemas, alcançando as soluções necessárias.

Este processo determina uma afetividade mais controlada, propiciando um maior controle vital, que se caracteriza pela diminuição, ausência ou maior domínio dos problemas existencial.

 

  

B) Nos momentos que antecipam a concentração

Um pouco antes do indivíduo se concentrar, é aconselhável que se perceba melhor, adquirindo consciência do que sente. Com esta conscientização poderá vir a ter um maior domínio de si na situação, auxiliando na sua concentração.

Poderá, ainda, afastar-se do trabalho de concentração, se as suas condições forem tais que lhe seja impossível a sua prática.

 

4) Concentração Motivada

A experiência mostra-nos que quando há motivação fica muito mais fácil, a qualquer pessoa, concentrar-se em determinado objeto. Por exemplo, a leitura de um livro que se tem interesse.

Técnica

Prestar atenção, pensar e fazer do interesse do aprendiz.

 

5) Adaptação Gradativa

É a adaptação gradativa aos estímulos ambientais, que torna a tarefa da concentração muito mais fácil.

A) Sons e ruídos com intensidade variada.

É a adaptação sonora do organismo.

B) Toques na superfície do corpo.

É a acomodação aos estímulos táteis.

C) Iluminação inadequada (forte ou fraca).

É a adaptação aos estímulos luminosos.

 

OBSERVAÇÃO: cada prática implica na utilização de uma ou mais técnicas. Exemplificando: poderemos ter uma técnica de “concentração motivada”, mas várias de adaptação gradativa.

 

       EXERCÍCIO PARA O TREINAMENTO DA CONCENTRAÇÃO

 

São práticas sistematizadas, que visam treinar o aprendiz na utilização da sua capacidade de fixação da atenção.

 

Há inúmeros exercícios que podem ser pesquisados nos livros que tratam do assunto. Para nosso estudo, daremos cinco exemplos.

 

1) Concentração Visual        

Dentre os vários exercícios de concentração visual, o quadro espiral colorido, que consta das cores dourado, vermelho, verde, amarelo e lilás, é o mais eficaz por sua objetividade e simplicidade.

Técnica

Focalizar a visão no centro do desenho e depois deslocá-la horizontalmente para as duas extremidades, simultaneamente, mantendo os olhos na mesma cor. Posteriormente, voltar da periferia para o centro, sempre acompanhando a mesma cor.

Repetir o exercício para todas as cores, sendo a observação, em uma cor de cada vez.

 

NOTA: a memorização das cores dá ensejo à prática da cromoterapia.

 

 

 

2) Concentração Intelectual

Assista à exposição ou leia um texto e, posteriormente, fale ou escreva a respeito.

Tempo de duração: um a três minutos.

 

3) Concentração Auditiva

Ouça atentamente uma música orquestrada e discrimine os diferentes sons dos instrumentos.

 

4) Concentração Olfativa    

Em estado de relaxamento e concentração, estando de olhos fechados, diferencie os vários aromas que lhe são apresentados a uma certa distância do nariz.

 

5) Concentração Imaginativa

Imagine uma seqüência de representações mentais, obedecendo a uma historieta que lhe é contada.

Procure participar ativamente do que lhe é dito, sentindo  e identificando-se com os acontecimentos sugeridos. Exemplos: presença e aproximação de Cristo numa dada paisagem.

 

OBSERVAÇÃO: cada  uma  destas formas de  concentração  exercita, fortalecendo a própria capacidade concentrativa. Ao final de algumas vezes, o aprendiz estará mais apto a fixar a sua atenção em sons, palavras, conceitos, odores, objetos e imagens. Em suma, mais capaz de dirigir a sua atenção e fixá-la por muito mais tempo, num determinado objeto mentalmente representado.

domingo, 10 de outubro de 2021

Situações Dramaticas

 

As 36 situações dramáticas de Polti

Georges Polti publicou em 1916 o livro Les XXXVI situations dramatiques, no qual, a partir das observações de Gozzi e de Goethe e da leitura de uma grande quantidade de textos dramáticos, ele estabelece as trinta e seis situações listadas abaixo. Polti lista diversas variações de cada situação e cita muitos exemplos delas (Há um estudo de Leonardo de Moraes que contém a maioria dessas variações - você pode baixá-lo aqui. A tradução inglesa do livro de Polti você encontra aqui.).

1. SÚPLICA - um Perseguidor, um Suplicante, um Poder indeciso.

2. RESGATE OU LIBERTAÇÃO - Um Desafortunado, uma Ameaça, um Libertador

3. CRIME SEGUIDO DE VINGANÇA - um Vingador, um Criminoso

4. VINGANÇA DE PARENTE CONTRA PARENTE - um Parente vingador, um Parente culpado, (uma vítima), a recordação da vítima, uma relação familiar entre os dois

5. PERSEGUIÇÃO - um Castigo e um Fugitivo (fugir de um castigo)

6. DESASTRE - um Poder subjugado, um Inimigo vitorioso ou um Mensageiro

7. SER VÍTIMA DE CRUELDADE OU DE INFORTÚNIO - um Desafortunado, um Executor ou um Infortúnio

8. REVOLTA - um Tirano, um Conspirador

9. EMPREENDIMENTO AUDACIOSO - um Líder audacioso, um Objetivo, um Adversário

10. SEQÜESTRO - um Sequestrador, um Sequestrado, um Guardião

11. O ENIGMA - um Interrogante, um Investigador, um Problema (a resolver)

12. OBTENÇÃO - um Solicitante e um Adversário que recusa, ou

um Árbitro e as Partes opostas

13. INIMIZADE ENTRE PARENTES - um Parente malévolo e um Parente odiado ou Ódio recíproco entre parentes

14. RIVALIDADE ENTRE PARENTES - um Parente preferido, um Parente rejeitado, o Objeto da rivalidade

15. ADULTÉRIO ASSASSINO - dois Adúlteros, um Marido ou uma Esposa

16. LOUCURA - um Louco, uma Vítima

17. IMPRUDÊNCIA FATAL - um Imprudente, uma Vítima ou um Objeto perdido

18. CRIMES INVOLUNTÁRIOS POR AMOR - um Amante, um Amado, um Anunciador da revelação

19. ASSASSINATO DE UM PARENTE NÃO RECONHECIDO - um Assassino, uma Vítima não reconhecida

20. AUTO-SACRIFÍCIO POR UM IDEAL - um Herói, um Ideal, um "Bem" ou uma Pessoa ou uma Coisa sacrificada

21. AUTO-SACRIFÍCIO POR UM PARENTE - um Herói, um Parente, um "Bem" ou uma Pessoa ou uma Coisa sacrificada

22. SACRIFÍCIO DE TUDO POR UMA PAIXÃO - um Apaixonado, o Objeto da paixão fatal, a Pessoa ou Coisa sacrificada

23. NECESSIDADE DE SACRIFICAR SERES AMADOS - um Herói, uma Vítima amada, a Necessidade do sacrifício

24. RIVALIDADE ENTRE UM SUPERIOR E UM INFERIOR - um Rival superior, um Rival inferior, o Objeto da rivalidade

25. ADULTÉRIO - um Cônjuge traído, dois Adúlteros

26. CRIMES DE AMOR - um Amante, a Pessoa amada, (o Crime de amor)

27. DESCOBERTA DA DESONRA DE UM SER AMADO - um Descobridor, o Culpado

28. OBSTÁCULOS AO AMOR - dois Amantes, um Obstáculo

29. UM INIMIGO AMADO - um Inimigo amado, Aquele que ama, Aquele que odeia

30. AMBIÇÃO - Um Ambicioso, a Coisa cobiçada, um Adversário

31. CONFLITO COM UM DEUS - um Mortal, um Imortal

32. CIÚME EQUIVOCADO - um Ciumento, o Objeto de que ele tem ciúmes, o Suposto cúmplice, a Causa ou o Autor do engano

33. JULGAMENTO ERRADO - um Erro, a Vítima do erro, a Causa ou o Autor do erro, o Verdadeiro culpado

34. REMORSO - um Culpado, a Vítima ou a Culpa, o Interrogador

35. RESGATE DE UMA PESSOA PERDIDA - o Resgatador, um Reencontrado

36. PERDA DE PESSOAS AMADAS - um Familiar desgraçado, um Familiar que observa impotente, um Executor da desgraça

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

A Fabula dos Porcoas Assados

 A Fabula dos Porcos Assados

Certa vez, aconteceu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, que foram assados pelo fogo. Os homens, acostumados a comer carne crua, experimentaram e acharam deliciosa a carne assada. A partir daí, toda vez que queriam comer porco assado, incendiavam um bosque...

Mas o que quero contar é o que aconteceu quando tentaram mudar o "sistema" para implantar um novo. Fazia tempo que as coisas não iam lá muito bem: às vezes os animais ficavam queimados demais ou parcialmente crus. O processo preocupava muito a todos, porque se o "sistema" falhava, as perdas ocasionadas eram muito grandes - milhões eram os que se alimentavam de carne assada e também milhões os que se ocupavam com a tarefa de assá-los. Portanto, o "sistema" simplesmente não podia falhar. Mas, curiosamente, quanto mais crescia a escala do processo, tanto mais apareciam falhas e tanto maiores eram as perdas causadas.



Em razão das inúmeras deficiências, aumentavam as queixas. Já era um clamor geral a necessidade de reformar profundamente o "sistema". Congressos, seminários, conferências passaram a ser realizados anualmente para buscar uma solução. Mas parece que não acertavam o melhoramento do mecanismo. Assim, no ano seguinte repetiam-se os congressos, seminários, conferências. As causas do fracasso do "sistema", segundo os especialistas, eram atribuídas à indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam, ou à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar, ou ainda às árvores, excessivamente verdes, ou à umidade da terra, ou ao serviço de informações meteorológicas, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade das chuvas...

As causas eram, como se vê, difíceis de determinar - na verdade, o "sistema" para assar porcos era muito complexo. Fora montada uma grande estrutura: maquinário diversificado; indivíduos dedicados exclusivamente a acender o fogo - incendiadores que eram também especializados (incendiadores da Zona Norte, da Zona Oeste, etc., incendiadores noturnos e diurnos, com especialização, matutinos e vespertinos, incendiador de verão, de inverno, etc.). Havia especialista também em ventos - os anemotécnicos. Havia um Diretor Geral de Assamento e Alimentação Assada, um Diretor de Técnicas Ígneas (com seu Conselho Geral de Assessores), um Administrador Geral de Reflorestamento, uma Comissão de Treinamento Profissional em "Porcologia", um Instituto Superior de Cultura e Técnicas Alimentícias (ISCUTA) e o Bureau Orientador de Reforma "Igneooperativas". Havia sido projetada e encontrava-se em plena atividade a formação de bosques e selvas, de acordo com as mais recentes técnicas de implantação - utilizando-se regiões de baixa umidade e onde os ventos não soprariam mais que três horas seguidas.



Eram milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques, que logo seriam incendiados. Havia especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores árvores e sementes, fogo mais potente, etc. Havia grandes instalações para manter os porcos antes do incêndio, além de mecanismos para deixá-los sair apenas no momento oportuno. Foram formados professores especializados na construção dessas instalações. Pesquisadores trabalhavam para as universidades para os professores especializados na construção das instalações para porcos; fundações apoiavam os pesquisadores que trabalhavam para as universidades que preparavam os professores especializados na construção das instalações para porcos, etc.

As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar triangularmente o fogo depois de atingida determinada velocidade do vento, soltar os porcos 15 minutos antes que o incêndio médio da floresta atingisse 47 graus, posicionar ventiladores-gigantes em direção oposta à do vento, de forma a direcionar o fogo, etc. Não é preciso dizer que os poucos especialistas estavam de acordo entre si, e que cada um embasava suas idéias em dados e pesquisas específicos. Um dia, um incendiador categoria AB/SODM-VCH (ou seja, um acendedor de bosques especializado em sudoeste diurno, matutino, com bacharelado em verão chuvoso), chamado "João Bom-Senso", resolveu dizer que o problema era muito fácil de ser resolvido - bastava, primeiramente, matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o então sobre uma armação metálica sobre brasas, até que o efeito do calor - e não as chamas - assasse a carne.



Tendo sido informado sobre as idéias do funcionário, o Diretor Geral de Assamento mandou chamá-lo ao seu gabinete, e depois de ouvi-lo pacientemente, disse-lhe:

- Tudo o que o senhor disse está muito bem, mas não funciona na prática. O que o senhor faria, por exemplo, com os anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria? Onde seria empregado todo o conhecimento dos acendedores de diversas especialidades?



- Não sei - disse João.



- E os especialistas em sementes? Em árvores importadas? E os desenhistas de instalações para porcos, com suas máquinas purificadoras automáticas de ar?

- Não sei.



- E os anemotécnicos que levaram anos especializando-se no exterior, e cuja formação custou tanto dinheiro ao país? Vou mandá-los limpar porquinhos? E os conferencistas e estudiosos, que ano após ano têm trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramentos? Que faço com eles, se a sua solução resolver tudo? Heim?



- Não sei - repetiu João encabulado.



- O senhor percebe agora que a sua idéia não vem ao encontro daquilo de que necessitamos? O senhor não vê, que, se tudo fosse tão simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução há muito tempo atrás? O senhor com certeza compreende que eu não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas, sem chamas! O que o senhor espera que eu faça com os quilômetros e quilômetros de bosques já preparados, cujas árvores não dão frutos e nem têm folhas para dar sombra? Vamos, diga-me.

- Não sei, não senhor.



- Diga-me, nossos três engenheiros em Porcopirotecnia, o senhor não considera que sejam personalidades científicas do mais extraordinário valor?



- Sim, parece que sim.



- Pois então. O simples fato de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia indica que nosso sistema é muito bom. O que eu faria com indivíduos tão importantes para o país?



- Não sei.



- Viu? O senhor tem que trazer soluções para certos problemas específicos - por exemplo, como melhorar as anemotécnicas atualmente utilizadas, como obter mais rapidamente acendedores de Oeste (nossa maior carência), como construir instalações para porcos com mais de sete andares. Temos que melhorar o "sistema", e não transformá-lo radicalmente, o senhor, entende? Ao senhor, falta-lhe sensatez!



- Realmente, eu estou perplexo! - respondeu João.

- Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por aí que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e complexo do que o senhor imagina. Agora, entre nós, devo recomendar-lhe que não insista nessa sua idéia - isso poderia trazer problemas para o senhor no seu cargo. Não por mim, o senhor entende. Eu falo isso para o seu próprio bem, porque eu o compreendo, entendo perfeitamente o seu posicionamento, mas o senhor sabe que pode encontrar outro superior menos compreensivo, não é mesmo?



João Bom-Senso, coitado, não falou mais um "A". Sem despedir-se, meio atordoado, meio assustado com a sua sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu de fininho e ninguém nunca mais o viu. Por isso é que até hoje se diz, quando há reuniões de Reforma e Melhoramentos, quem sempre falta é o Bom-Senso.

 

Fabulas – pequenas

1. Quem cobra também é cobrado

Depois de um dia de caminhada pela mata, mestre e discípulo retornavam ao casebre, seguindo por uma longa estrada.
Ao passarem próximo a uma moita de samambaia, ouviram um gemido.
Verificaram e descobriram, caído, um homem.
Estava pálido e com uma grande mancha de sangue, próximo ao coração.
O homem tinha sido ferido e já estava próximo da inconsciência.
Com muita dificuldade, mestre e discípulo carregaram o homem para o casebre rústico, onde trataram do ferimento.

Uma semana depois, já restabelecido, o homem contou que havia sido assaltado e que ao reagir fora ferido por uma faca.
Disse que conhecia seu agressor, e que não descansaria enquanto não se vingasse.

Disposto a partir, o homem disse ao sábio:

– Senhor, muito lhe agradeço por ter salvo minha vida. Tenho que partir e levo comigo a gratidão por sua bondade.
Vou ao encontro daquele que me atacou e vou fazer com que ele sinta a mesma dor que senti.

O mestre olhou fixo para o homem e disse:

– Vá e faça o que deseja. Entretanto, devo informá-lo de que você me deve três mil moedas de ouro, como pagamento pelo tratamento que lhe fiz.

O homem ficou assustado e disse:

– Senhor, é muito dinheiro. Sou um trabalhador e não tenho como lhe pagar esse valor!

– Se não podes pagar pelo bem que recebestes, com que direito queres cobrar o mal que lhe fizeram?

O homem ficou confuso e o mestre concluiu:

– Antes de cobrar alguma coisa, procure saber quanto você deve.

Não faça cobrança pelas coisas ruins que te aconteçam nessa vida, pois essa vida pode lhe cobrar tudo que você deve. E com certeza você vai pagar muito mais caro.

 

2. Tornando o campo fértil

Um mestre encarregou o seu discípulo de cuidar do campo de arroz.
No primeiro ano, o discípulo vigiava para que nunca faltasse a água necessária. O arroz cresceu forte, e a colheita foi boa.
No segundo ano, ele teve a ideia de acrescentar um pouco de fertilizante. O arroz cresceu rápido, e a colheita foi maior.
No terceiro ano, ele colocou mais fertilizante. A colheita foi maior ainda, mas o arroz nasceu pequeno e sem brilho.
Então o mestre advertiu-o:

– Se continuar aumentando a quantidade de adubo, não terá nada de valor no ano que vem.

Você fortalece alguém quando ajuda um pouco. Mas se você ajuda muito, pode enfraquecê-lo e até estragá-lo.

 

3. O segredo da felicidade

 

Há uma fábula maravilhosa sobre uma menina órfã que não tinha nem família nem ninguém para amá-la. Certo dia, sentindo-se excepcionalmente triste e sozinha, ela foi passear por um prado e viu uma pequena borboleta presa num arbusto de espinhos. Quanto mais a borboleta lutava para se libertar, mais os espinhos cortavam suas asas frágeis. A menina órfã libertou cuidadosamente a borboleta de sua prisão de espinhos. Em vez de voar para longe, a pequena borboleta transformou-se numa bonita fada. A menina esfregou os olhos, sem acreditar.

– Por sua maravilhosa gentileza – disse a boa fada à menina -, vou realizar qualquer desejo que você escolher.

A menina pensou um pouco e depois respondeu:

– Eu quero ser feliz!

A fada disse:

– Muito bem – e, inclinando-se na direção dela, sussurrou alguma coisa no seu ouvido. Em seguida, a fada desapareceu.

Enquanto a menina crescia, não havia ninguém na região tão feliz quanto ela. Todos lhe perguntavam o segredo da sua felicidade. Ela apenas sorria e respondia:

– O segredo da minha felicidade é que ouvi o que uma boa fada me disse quando eu era menina.

Quando estava bem velhinha, em seu leito de morte, todos os vizinhos se reuniram à sua volta, com medo de que o maravilhoso segredo morresse com ela.

– Conte, por favor – imploraram eles. – Conte o que a boa fada disse.

A adorável velhinha simplesmente sorriu e respondeu:

– Ela me disse que todo mundo, por mais seguro que pareça, quer seja velho ou novo, rico ou pobre, precisa de mim.

 

 

4. A joia perdida

Atravessando o deserto, um viajante viu um árabe montado ao pé de uma palmeira. A pouca distância repousavam os seus cavalos, pesadamente carregados com valiosos objetos.

Aproximou-se dele e disse:

— Pareceis muito preocupado. Posso ajudar-vos em alguma coisa?

— Ah! – respondeu o árabe com tristeza – estou muito aflito, porque acabo de perder a mais preciosa de todas as joias.

— Que joia era essa? – perguntou o viajante.

— Era uma joia como jamais haverá outra – respondeu o seu interlocutor. Estava talhada num pedaço de pedra da vida e tinha sido feita na oficina do tempo. Adornavam-na vinte e quatro brilhantes, em volta dos quais se agrupavam sessenta menores. Já vereis que tenho razão em dizer que joia igual jamais poderá reproduzir-se.

— Por minha fé – disse o viajante – a vossa joia devia ser preciosa. Mas não será possível que, com muito dinheiro, se possa fazer outra igual? Voltando a ficar pensativo, o árabe respondeu:

— A joia perdida era um dia, e um dia que se perde jamais se torna a encontrá-lo.

 

5. O garoto do “olha o lobo”

 

Um pastorzinho que cuidava de seu rebanho perto de um povoado gostava de se distrair de vez em quando gritando:

– Olha o lobo! Socorro! Olha o lobo!

Deu certo umas duas ou três vezes. Todos os habitantes do povoado vinham correndo ajudar o pastorzinho e só encontravam risadas diante de tanto esforço. Um dia apareceu um lobo em carne e osso. O menino gritou desesperado, mas os vizinhos achavam que era só brincadeira e nem prestaram atenção. O lobo pôde devorar todas as ovelhas sem ser perturbado.

Moral: Os mentirosos podem falar a verdade que ninguém acredita.

Do livro: Fábulas de Esopo – Companhia das Letrinhas

6. O galo e a raposa

 

O galo cacarejava em cima de uma árvore. Vendo-o ali, a raposa tratou de bolar uma estratégia para que ele descesse e fosse o prato principal de seu almoço.

-Você já ficou sabendo da grande novidade, galo? – perguntou a raposa.

-Não. Que novidade é essa?

-Acaba de ser assinada uma proclamação de paz entre todos os bichos da terra, da água e do ar. De hoje em diante, ninguém persegue mais ninguém. No reino animal haverá apenas paz, harmonia e amor.

-Isso parece inacreditável! – comentou o galo.

-Vamos, desça da árvore que eu lhe darei mais detalhes sobre o assunto – disse a raposa.

O galo, que de bobo não tinha nada, desconfiou que tudo não passava de um estratagema da raposa. Então, fingiu estar vendo alguém se aproximando.

-Quem vem lá? Quem vem lá? – perguntou a raposa curiosa.

-Uma matilha de cães de caça – respondeu o galo.

-Bem…nesse caso é melhor eu me apressar – desculpou-se a raposa.

-O que é isso, raposa? Você está com medo? Se a tal proclamação está mesmo em vigor, não há nada a temer. Os cães de caça não vão atacá-la como costumava fazer.

-Talvez eles ainda não saibam da proclamação. Adeusinho!

E lá se foi a raposa, com toda a pressa, em busca de uma outra presa para o seu almoço.
Moral: é preciso ter cuidado com amizades repentinas.

Do livro: Fábulas de Esopo – Companhia das Letrinhas

Fabulas - com moral

 

Fábulas – com moral

1. Os viajantes e o urso

Um dia dois viajantes deram de cara com um urso. O primeiro se salvou escalando uma árvore, mas o outro, sabendo que não ia conseguir vencer sozinho o urso, se jogou no chão e fingiu-se de morto. O urso se aproximou dele e começou a cheirar as orelhas do homem, mas, convencido de que estava morto, foi embora. O amigo começou a descer da árvore e perguntou:

-O que o urso estava cochichando em seu ouvido?

-Ora, ele só me disse para pensar duas vezes antes de sair por aí viajando com gente que abandona os amigos na hora do perigo.

Moral: a desgraça põe à prova a sinceridade da amizade.

Do livro: Fábulas de Esopo – Companhia das Letrinhas

 

2. AS ÁRVORES E O MACHADO

Um lenhador foi até a floresta pedir às árvores que lhe dessem um cabo para seu machado. As árvores acharam que não custava nada atender ao pedido do lenhador e na mesma hora resolveram fazer o que ele queria. Ficou decidido que o freixo, que era uma árvore comum e modesta, daria o que era necessário. Mas, assim que recebeu o que tinha pedido, o lenhador começou a atacar com seu machado tudo o que encontrava pela frente na floresta, derrubando as mais belas árvores. O carvalho, que só se deu conta da tragédia quando já era tarde demais para fazer alguma coisa, cochichou para o cedro:

– Foi um erro atender ao primeiro pedido que ele fez. Por que fomos sacrificar nosso humilde vizinho? Se não tivéssemos feito isso, quem sabe viveríamos muitos e muitos anos!

Moral: Quem trai os amigos pode estar cavando a própria cova.

Do livro: Fábulas de Esopo – Companhia das Letrinhas

 

3. A lebre e a tartaruga

A lebre vivia a se gabar de que era o mais veloz de todos os animais. Até o dia em que encontrou a tartaruga.
– Eu tenho certeza de que, se apostarmos uma corrida, serei a vencedora – desafiou a tartaruga.

A lebre caiu na gargalhada.
– Uma corrida? Eu e você? Essa é boa!

– Por acaso você está com medo de perder? – perguntou a tartaruga.
– É mais fácil um leão cacarejar do que eu perder uma corrida para você – respondeu a lebre.

No dia seguinte a raposa foi escolhida para ser a juíza da prova. Bastou dar o sinal da largada para a lebre disparar na frente a toda velocidade. A tartaruga não se abalou e continuou na disputa. A lebre estava tão certa da vitória que resolveu tirar uma soneca.

“Se aquela molenga passar na minha frente, é só correr um pouco que eu a ultrapasso” – pensou.

A lebre dormiu tanto que não percebeu quando a tartaruga, em sua marcha vagarosa e constante, passou. Quando acordou, continuou a correr com ares de vencedora. Mas, para sua surpresa, a tartaruga, que não descansara um só minuto, cruzou a linha de chegada em primeiro lugar.

Desse dia em diante, a lebre tornou-se o alvo das chacotas da floresta.
Quando dizia que era o animal mais veloz, todos lembravam-na de uma certa tartaruga…

Moral: Quem segue devagar e com constância sempre chega na frente.

Do livro: Fábulas de Esopo – Editora Scipione

 

4. A raposa e as uvas

Morta de fome, uma raposa foi até um vinhedo sabendo que ia encontrar muita uva. A safra tinha sido excelente. Ao ver a parreira carregada de cachos enormes, a raposa lambeu os beiços. Só que sua alegria durou pouco: por mais que tentasse, não conseguia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços inúteis, resolveu ir embora, dizendo:

– Por mim, quem quiser essas uvas pode levar. Estão verdes, estão azedas, não me servem. Se alguém me desse essas uvas eu não comeria.

Moral: Desprezar o que não se consegue conquistar é fácil.

 

5. A rosa e a borboleta

Uma vez uma borboleta se apaixonou por uma linda rosa. A rosa ficou comovida, pois o pó das asas da borboleta formava um maravilhoso desenho em ouro e prata. Assim, quando a borboleta se aproximou voando da rosa e disse que a amava, a rosa ficou coradinha e aceitou o namoro. Depois de um longo noivado e muitas promessas de fidelidade, a borboleta deixou sua amada rosa. Mas ó desgraça! A borboleta só voltou muito tempo depois.

– É isso que você chama fidelidade? – choramingou a rosa. – Faz séculos que você partiu, e além disso você passa o tempo de namoro com todos os tipos de flores. Vi quando você beijou dona Gerânio, vi quando você deu voltinhas na dona Margarida até que dona Abelha chegou e expulsou você… Pena que ela não lhe deu uma boa ferroada!

– Fidelidade!? – riu a borboleta. – Assim que me afastei, vi o senhor Vento beijando você. Depois você deu o maior escândalo com o senhor Zangão e ficou dando trela para todo besourinho que passava por aqui. E ainda vem me falar em fidelidade!

Moral: Não espere fidelidade dos outros se não for fiel também.

 

6. Unha-de-Fome

Depois duma vida de misérias e privações Unha-de-Fome conseguiu amontoar um tesouro, que enterrou longe de casa, num lugar ermo, colocando uma grande pedra em cima. Mas tal era o seu amor pelo dinheiro, que volta e meia rondava a pedra, e namorava como o jacaré namora os seus próprios ovos ocultos na areia. Isto atraiu a atenção dum vizinho, que o espionou e por fim lhe roubou o tesouro.

Quando Unha-de-Fome deu pelo saque, rolou por terra desesperado, arrepelando os cabelos.

– Meu tesouro! Minha alma! Roubaram minha alma! Um viajante que passava foi atraído pelos berros.

– Que é isso, homem?

– Meu tesouro! Roubaram meu tesouro!

– Mas morando lá longe você o guardava aqui, então? Que tolice! Se o conservasse em casa não seria mais cômodo para gastar dele quando fosse preciso?

– Gastar do meu tesouro!? Então você supõe que eu teria a coragem de gastar uma moedinha só, das menores que fosse?

– Pois se era assim, o tesouro não tinha para você a menor utilidade, e tanto faz que esteja com quem o roubou como enterrado aqui. Vamos! Ponha no buraco vazio uma pedra, que dá no mesmo. Que utilidade tem o dinheiro para quem só o guarda e não gasta?

Do livro: Fábulas – Monteiro Lobato – Editora Brasiliense

 

7. O cachorro na manjedoura

Um cachorro estava dormindo em uma manjedoura cheia de feno. Quando os bois chegaram, cansados e com fome depois de um dia inteiro de trabalho no campo, o cachorro acordou. Acordou, mas não queria deixar que os bois se aproximassem da manjedoura e começou a rosnar e tentar morder seus focinhos, como se a manjedoura estivesse cheia de carne e ossos e essas delícias fossem só dele. Os bois olharam para o cachorro muito aborrecidos.

– Que egoísta! – disse um deles. – Ele nem gosta de comer feno! E nós, que comemos, e que estamos com tanta fome, ele não nos deixa chegar perto!

Nisso apareceu o fazendeiro. Ao ver o que o cachorro estava fazendo, pegou um pau e enxotou o cachorro do estábulo a pauladas por ser tão malcriado.

Moral: Não prive os outros de que não pode desfrutar.

Do livro: Fábulas de Esopo – Companhia das Letrinhas

 

8. O Cavalo Descontente

Sempre podemos encontrar motivos para nos sentirmos descontentes, se quisermos. Podemos, também, encontrar argumentos para nos considerarmos afortunados por estarmos vivos. Tudo depende da maneira como cada um vê a existência.

Era uma vez um cavalo que, em pleno inverno, desejava o regresso da primavera. De fato, ainda que agora descansasse tranqüilamente no estábulo, via-se obrigado a comer palha seca.

– Ah, como sinto saudades de comer a erva fresca que nasce na primavera! dizia o pobre animal.

A primavera chegou e o cavalo teve sua erva fresca, mas começou a trabalhar bastante porque era época da colheita.

– Quando chegará o verão? Já estou farto de passar o dia inteiro puxando o arado! lamentava-se o cavalo.

Chegou o verão, mas o trabalho aumentou e o calor tornou-se muito forte.

– Oh, o outono! Estou ansioso pela chegada do outono! dizia mais uma vez o cavalo, convencido de que naquela estação terminariam seus males.

Mas no outono teve que carregar lenha para que seu dono estivesse preparado para enfrentar o inverno. E o cavalo não parava de queixar-se e de sofrer.

Quando o inverno chegou novamente, e o cavalo pode finalmente descansar, compreendeu que tinha sido fantasioso tentar fugir do momento presente e refugiar-se na quimera do futuro. Esta não é a melhor forma de encarar a realidade da vida e do trabalho.

É melhor descobrir o que a vida tem de bom momento a momento, vivendo o presente da melhor forma possível.


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