Fabulas – pequenas
1. Quem cobra também é cobrado
Depois de um dia de
caminhada pela mata, mestre e discípulo retornavam ao casebre, seguindo por uma
longa estrada.
Ao passarem próximo a uma moita de samambaia, ouviram um gemido.
Verificaram e descobriram, caído, um homem.
Estava pálido e com uma grande mancha de sangue, próximo ao coração.
O homem tinha sido ferido e já estava próximo da inconsciência.
Com muita dificuldade, mestre e discípulo carregaram o homem para o casebre
rústico, onde trataram do ferimento.
Uma semana depois,
já restabelecido, o homem contou que havia sido assaltado e que ao reagir fora
ferido por uma faca.
Disse que conhecia seu agressor, e que não descansaria enquanto não se
vingasse.
Disposto a partir,
o homem disse ao sábio:
– Senhor, muito lhe
agradeço por ter salvo minha vida. Tenho que partir e levo comigo a
gratidão por sua bondade.
Vou ao encontro daquele que me atacou e vou fazer com que ele sinta a mesma dor
que senti.
O mestre olhou fixo
para o homem e disse:
– Vá e faça o que
deseja. Entretanto, devo informá-lo de que você me deve três mil moedas de
ouro, como pagamento pelo tratamento que lhe fiz.
O homem ficou
assustado e disse:
– Senhor, é muito
dinheiro. Sou um trabalhador e não tenho como lhe pagar esse valor!
– Se não podes
pagar pelo bem que recebestes, com que direito queres cobrar o mal que lhe
fizeram?
O homem ficou
confuso e o mestre concluiu:
– Antes de cobrar
alguma coisa, procure saber quanto você deve.
Não faça cobrança
pelas coisas ruins que te aconteçam nessa vida, pois essa vida pode lhe cobrar
tudo que você deve. E com certeza você vai pagar muito mais caro.
2. Tornando o campo fértil
Um mestre
encarregou o seu discípulo de cuidar do campo de arroz.
No primeiro ano, o discípulo vigiava para que nunca faltasse a água necessária.
O arroz cresceu forte, e a colheita foi boa.
No segundo ano, ele teve a ideia de acrescentar um pouco de fertilizante. O
arroz cresceu rápido, e a colheita foi maior.
No terceiro ano, ele colocou mais fertilizante. A colheita foi maior ainda, mas
o arroz nasceu pequeno e sem brilho.
Então o mestre advertiu-o:
– Se continuar
aumentando a quantidade de adubo, não terá nada de valor no ano que vem.
Você fortalece
alguém quando ajuda um pouco. Mas se você ajuda muito, pode enfraquecê-lo e até
estragá-lo.
3. O segredo da felicidade
Há uma fábula
maravilhosa sobre uma menina órfã que não tinha nem família nem ninguém para
amá-la. Certo dia, sentindo-se excepcionalmente triste e sozinha, ela foi
passear por um prado e viu uma pequena borboleta presa num arbusto de espinhos.
Quanto mais a borboleta lutava para se libertar, mais os espinhos cortavam suas
asas frágeis. A menina órfã libertou cuidadosamente a borboleta de sua prisão
de espinhos. Em vez de voar para longe, a pequena borboleta transformou-se numa
bonita fada. A menina esfregou os olhos, sem acreditar.
– Por sua
maravilhosa gentileza – disse a boa fada à menina -, vou realizar qualquer
desejo que você escolher.
A menina pensou um
pouco e depois respondeu:
– Eu quero ser
feliz!
A fada disse:
– Muito bem – e,
inclinando-se na direção dela, sussurrou alguma coisa no seu ouvido. Em
seguida, a fada desapareceu.
Enquanto a menina
crescia, não havia ninguém na região tão feliz quanto ela. Todos lhe
perguntavam o segredo da sua felicidade. Ela apenas sorria e respondia:
– O segredo da
minha felicidade é que ouvi o que uma boa fada me disse quando eu era menina.
Quando estava bem
velhinha, em seu leito de morte, todos os vizinhos se reuniram à sua volta, com
medo de que o maravilhoso segredo morresse com ela.
– Conte, por favor
– imploraram eles. – Conte o que a boa fada disse.
A adorável velhinha
simplesmente sorriu e respondeu:
– Ela me disse que
todo mundo, por mais seguro que pareça, quer seja velho ou novo, rico ou pobre,
precisa de mim.
4. A joia perdida
Atravessando o
deserto, um viajante viu um árabe montado ao pé de uma palmeira. A pouca
distância repousavam os seus cavalos, pesadamente carregados com valiosos
objetos.
Aproximou-se dele e
disse:
— Pareceis muito preocupado.
Posso ajudar-vos em alguma coisa?
— Ah! – respondeu o
árabe com tristeza – estou muito aflito, porque acabo de perder a mais preciosa
de todas as joias.
— Que joia era
essa? – perguntou o viajante.
— Era uma joia como
jamais haverá outra – respondeu o seu interlocutor. Estava talhada num pedaço
de pedra da vida e tinha sido feita na oficina do tempo. Adornavam-na vinte e
quatro brilhantes, em volta dos quais se agrupavam sessenta menores. Já vereis
que tenho razão em dizer que joia igual jamais poderá reproduzir-se.
— Por minha fé –
disse o viajante – a vossa joia devia ser preciosa. Mas não será possível que,
com muito dinheiro, se possa fazer outra igual? Voltando a ficar pensativo, o
árabe respondeu:
— A joia perdida
era um dia, e um dia que se perde jamais se torna a encontrá-lo.
5. O garoto do “olha o lobo”
Um pastorzinho que
cuidava de seu rebanho perto de um povoado gostava de se distrair de vez em
quando gritando:
– Olha o lobo!
Socorro! Olha o lobo!
Deu certo umas duas
ou três vezes. Todos os habitantes do povoado vinham correndo ajudar o
pastorzinho e só encontravam risadas diante de tanto esforço. Um dia apareceu
um lobo em carne e osso. O menino gritou desesperado, mas os vizinhos achavam
que era só brincadeira e nem prestaram atenção. O lobo pôde devorar todas as
ovelhas sem ser perturbado.
Moral: Os
mentirosos podem falar a verdade que ninguém acredita.
Do livro: Fábulas de Esopo – Companhia das Letrinhas
6. O galo e a raposa
O galo cacarejava
em cima de uma árvore. Vendo-o ali, a raposa tratou de bolar uma estratégia
para que ele descesse e fosse o prato principal de seu almoço.
-Você já ficou
sabendo da grande novidade, galo? – perguntou a raposa.
-Não. Que novidade
é essa?
-Acaba de ser
assinada uma proclamação de paz entre todos os bichos da terra, da água e do
ar. De hoje em diante, ninguém persegue mais ninguém. No reino animal haverá
apenas paz, harmonia e amor.
-Isso parece
inacreditável! – comentou o galo.
-Vamos, desça da
árvore que eu lhe darei mais detalhes sobre o assunto – disse a raposa.
O galo, que de bobo
não tinha nada, desconfiou que tudo não passava de um estratagema da raposa.
Então, fingiu estar vendo alguém se aproximando.
-Quem vem lá? Quem
vem lá? – perguntou a raposa curiosa.
-Uma matilha de
cães de caça – respondeu o galo.
-Bem…nesse caso é
melhor eu me apressar – desculpou-se a raposa.
-O que é isso,
raposa? Você está com medo? Se a tal proclamação está mesmo em vigor, não há
nada a temer. Os cães de caça não vão atacá-la como costumava fazer.
-Talvez eles ainda
não saibam da proclamação. Adeusinho!
E lá se foi a
raposa, com toda a pressa, em busca de uma outra presa para o seu almoço.
Moral: é preciso ter cuidado com amizades repentinas.
Do livro: Fábulas de Esopo – Companhia das Letrinhas
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