Teatro para adolescentes: pra quê?
Ao propor um entendimento sobre contextos e
emoções, o teatro pode ser uma potente ferramenta de autodescoberta para os
adolescentes
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Sabe quando as coisas ficam
indefinidas dentro de nós? Ainda não estamos no mundo adulto, e a fase anterior
já ficou pra trás. Somos adolescentes. Novas questões começam a aparecer e não
sabemos bem como lidar com elas. Temos vontade de falar, mas ainda não sabemos
o quê. Queremos realizar coisas, mas parece que vamos ter de esperar crescermos
mais. Nessa fase, se abrir pode ser uma conquista. Pra isso precisaremos olhar
pra dentro, precisaremos de espaço, de confiança, de parceiros. O teatro é uma
ferramenta de autodescoberta, de diálogo e de expressão.
Na nossa experiência ensinando
teatro para adolescentes, percebemos que muitas questões vinham à tona, direta
ou indiretamente. Vamos falar um pouco sobre elas.
Quem sou eu no
mundo agora?
Percebemos que existe um limbo
de identidade na fase da adolescência. Eu olho pra fora, imito, desejo ou
rejeito, e não é simples discernir o que eu sou, e o que está sendo mostrado
para mim através do mundo. Percebemos que as conversas nas aulas de teatro são
importantes para que os pensamentos sejam expostos, e a partir daí as ideias
possam ser organizadas.
No curso a gente busca propor
temas que dizem respeito a todo mundo.
Desmistificando
emoções, sensações, pensamentos
É raro falar abertamente sobre
pensamentos e emoções. Podemos ter uma pessoa, ou algumas, com quem esses
assuntos são mais explorados. A grande função do teatro e
do cinema é poder revelar que essas emoções, ou ideias, são compartilhadas por
todos nós, e não são uma questão única de um único alguém. No
teatro, os assuntos que dizem respeito a todos os seres humanos podem ser
olhados, conversados e até encenados, e sempre depois da experiência teatral,
das brincadeiras e dinâmicas, saímos
aliviados por não estarmos sozinhos, por poder viver tudo isso de
maneira compartilhada e, a partir daí, entender melhor a nós mesmos, ao outro,
e ao mundo em que vivemos.
Senso de utilidade
e pertencimento
A nossa proposta durante todo o
processo é que tudo o que for desenvolvido artisticamente será desenvolvido
pelo grupo, em parceria. Nós nos colocamos como facilitadoras e mediadoras, mas
o trabalho sempre deve refletir os lugares por onde o grupo transitou. Os alunos são convidados a se apropriar.
A maioria das dinâmicas de
teatro são feitas com pelo menos duas pessoas. Então, todo o material gerado
emerge sempre da interação dos alunos, quanto mais interação e abertura para se
relacionar com o grupo, mais rico é esse material. Ou seja, a decisão de
arriscar, propor, interagir, é sempre uma decisão que vai gerar ganhos pro
grupo e pra peça. E é dessa maneira que o
senso de utilidade e pertencimento são desenvolvidos.
Conhecer o lugar do
outro – compreensão de mentalidades
Uma das coisas que a gente faz
quando faz teatro é personagem. E fazer personagem significa conhecer uma
mentalidade diferente da sua. O famoso “andar no sapato do outro”. Esse
movimento faz com que o aluno consiga, de maneira leve, olhar pra fora, entender que o outro tem um jeito de pensar e que,
pra compreender esse jeito, é necessário bastante interesse e dedicação.
O que você tem a
dizer pro mundo atual?
Todos nós temos algo a dizer
para o mundo. Todos nós identificamos coisas que precisam ser mudadas,
arrumadas, reolhadas. Mas pra trazer esse conteúdo à tona, ele precisa ter
espaço para existir. O teatro é esse espaço.
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