CRÍTICAS
O VENENO QUE PODE FORTALECER
"O que não me
mata, me torna mais forte" - Nietzsche, filósofo.
Nem sempre um veneno
tem um efeito negativo. O botox é uma toxina violenta, que causa o botulismo.
Mas tem sido usada com uma finalidade diversa: a sua aplicação em doses
apropriadas faz com que desapareçam as rugas de expressão do rosto. O mesmo
acontece com um outro veneno violento, a estricnina, que é ministrada aos
cavalos em doses diminutas para que fiquem com um pelo bonito.
A crítica, do ponto de
vista das relações humanas e da auto-estima, também pode ser um veneno mortal.
Ou um ótimo remédio, que irá nos fortalecer. Isso irá depender exclusivamente
de nós – se soubermos usar adequadamente a crítica que nos fazem, teremos uma
bela oportunidade de evoluir. Veja como fazer essa transformação, passo a
passo:
1 - Reconhecer a validade
Para que a crítica deixe
de ser veneno e passe a vitamina do nosso crescimento profissional e pessoal
temos que, em primeiro lugar, considerar que nosso crítico pode estar dizendo a
verdade. Geralmente, a primeira reação que adotamos, principalmente quando
recebemos uma crítica no trabalho, é a de desconsiderá-la. Frases como
"Fulano disse isso porque está irritado", ou "Ela está é com
inveja" são as primeiras que nos vêem à mente. E os nossos colegas mais
próximos tendem a reforçar essa visão – especialmente se a crítica foi feita em
público. "Ele só quis te humilhar, não liga", diz a sua amiga do
trabalho, achando que a/o está ajudando.
Quer um bom conselho?
Ignore a sua amiga e a sua própria mente quando tenta fazer de você uma vítima
da maldade alheia. Olhe de frente para a crítica e veja se não há um fundo de
verdade, ainda que tenha vindo temperada de raiva, inveja ou seja lá que molho
negativo. Pois grande parte das críticas tem, mesmo, um conteúdo de verdade: ou
então não nos magoariam tão profundamente.
Se alguém lhe dissesse
que você é totalmente relaxado com suas tarefas, você não iria nem ligar se
fosse absolutamente cuidadoso com elas. Se incomodou, é porque pode ser verdade
– ainda que parcialmente. O que pode ser mentira é o "totalmente",
pois você pode ser "um pouco", "mais ou menos" ou
"bastante" relaxado. Não "totalmente". E não perca seu
tempo considerando se a pessoa que criticou estava bem intencionada ou não.
Esse não é um foco que leve ao crescimento. Isso é problema dela. O seu é
evoluir.
Portanto, olhe de
frente para a crítica. Veja o quanto há de verdade. Essa verdade, ainda que
pequena, será a quantidade necessária para que você comece a trabalhar na sua
fórmula pessoal de transformação.
2 – Determine o que pode ser feito.
Se há um grãozinho de
verdade no que foi dito, há trabalho a ser feito. Concentre, agora, sua atenção
em evoluir. Determine qual é a sua real situação. O defeito/problema apontado é
de tal ordem que pode impedir sua evolução profissional ou pessoal?
Se tiver dificuldade
em fazer essa avaliação, pense nesse defeito como se fosse bem pior. Usando
novamente o exemplo da pessoa que é acusada de ser relaxada: ela consideraria
que se acha "um pouco" relaxada. Mas, para piorar o quadro, se veria
como "bastante" relaxada.
A seguir, imagine o
que acontecerá com sua vida profissional se, daqui a dez anos, você tiver o
mesmo defeito/comportamento em um grau mais acentuado. Continuando com o
exemplo: ser bastante relaxado/a irá travar sua carreira? Irá atrasá-la? Para
se ter uma visão exata, é muito importante exagerar o defeito. Porque poucas
pessoas têm uma visão absolutamente real de si mesmas: o que nos outros
chamamos de teimosia, em nós mesmos dizemos que é persistência.
É com base na sua
resposta a essas perguntas que você irá estabelecer seu plano de ação para
corrigir seu problema, melhorar seu desempenho ou tomar a medida que for
necessária. Se fizer isso, a crítica que agora lhe doeu na verdade está
salvando sua carreira no futuro. Ou, se você realmente fizer bom uso dela, pode
ser o seu grande salto.
Conheço um exemplo
extremo disso, um rapaz que é um grande especialista em sua área de atuação.
Ninguém se equipara a ele. Um dia, perguntei como ele se tornou um profissional
tão bom. E ele me contou que, ainda no Segundo Grau, recebeu uma crítica que
achou injusta sobre seu pouco conhecimento do assunto. E decidiu estudar o
tema. Estudou tanto que virou um ótimo especialista. A crítica que fizeram a
ele era justa? Era injusta? Não sei. Mas sei que teve um resultado muito bom. E
que esse resultado foi unicamente mérito dele – e não de quem fez a crítica.
3 – Siga em frente – mas registre o
fato.
Tendo aproveitado o
que o veneno da crítica tinha de bom, está na hora de seguir em frente. Porque
veneno bem usado pode ser remédio – mas quando se toma repetidamente é veneno,
mesmo. E se você ficar remoendo o tema ou comentando com seus colegas e amigos
irá se envenenar com irritação ou raiva de quem lhe criticou.
Gaste o tempo que iria usar para isso
em outras coisas: como, por exemplo, registrando, em um caderno especial (e
altamente pessoal) o que aprendeu com o incidente. Se você mantiver um registro
desse tipo, poderá obter algumas vantagens adicionais: descobrirá se está
repetindo sempre o mesmo comportamento (ou adotando variações dele) ou se existe
alguém que o esteja criticando de forma sistemática. No primeiro caso, terá a
chance de corrigir-se. No segundo, perceberá quem tenta travar a sua carreira –
e talvez até o porquê desse comportamento. Em qualquer um dos casos, aprenderá
mais sobre si e seu desempenho profissional.