sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

CRÍTICAS O VENENO QUE PODE FORTALECER

 

CRÍTICAS

O VENENO QUE PODE FORTALECER

"O que não me mata, me torna mais forte" - Nietzsche, filósofo.

Nem sempre um veneno tem um efeito negativo. O botox é uma toxina violenta, que causa o botulismo. Mas tem sido usada com uma finalidade diversa: a sua aplicação em doses apropriadas faz com que desapareçam as rugas de expressão do rosto. O mesmo acontece com um outro veneno violento, a estricnina, que é ministrada aos cavalos em doses diminutas para que fiquem com um pelo bonito.

A crítica, do ponto de vista das relações humanas e da auto-estima, também pode ser um veneno mortal. Ou um ótimo remédio, que irá nos fortalecer. Isso irá depender exclusivamente de nós – se soubermos usar adequadamente a crítica que nos fazem, teremos uma bela oportunidade de evoluir. Veja como fazer essa transformação, passo a passo:

1 - Reconhecer a validade

Para que a crítica deixe de ser veneno e passe a vitamina do nosso crescimento profissional e pessoal temos que, em primeiro lugar, considerar que nosso crítico pode estar dizendo a verdade. Geralmente, a primeira reação que adotamos, principalmente quando recebemos uma crítica no trabalho, é a de desconsiderá-la. Frases como "Fulano disse isso porque está irritado", ou "Ela está é com inveja" são as primeiras que nos vêem à mente. E os nossos colegas mais próximos tendem a reforçar essa visão – especialmente se a crítica foi feita em público. "Ele só quis te humilhar, não liga", diz a sua amiga do trabalho, achando que a/o está ajudando.

Quer um bom conselho? Ignore a sua amiga e a sua própria mente quando tenta fazer de você uma vítima da maldade alheia. Olhe de frente para a crítica e veja se não há um fundo de verdade, ainda que tenha vindo temperada de raiva, inveja ou seja lá que molho negativo. Pois grande parte das críticas tem, mesmo, um conteúdo de verdade: ou então não nos magoariam tão profundamente.

Se alguém lhe dissesse que você é totalmente relaxado com suas tarefas, você não iria nem ligar se fosse absolutamente cuidadoso com elas. Se incomodou, é porque pode ser verdade – ainda que parcialmente. O que pode ser mentira é o "totalmente", pois você pode ser "um pouco", "mais ou menos" ou "bastante" relaxado. Não "totalmente". E não perca seu tempo considerando se a pessoa que criticou estava bem intencionada ou não. Esse não é um foco que leve ao crescimento. Isso é problema dela. O seu é evoluir.

Portanto, olhe de frente para a crítica. Veja o quanto há de verdade. Essa verdade, ainda que pequena, será a quantidade necessária para que você comece a trabalhar na sua fórmula pessoal de transformação.

2 – Determine o que pode ser feito.

Se há um grãozinho de verdade no que foi dito, há trabalho a ser feito. Concentre, agora, sua atenção em evoluir. Determine qual é a sua real situação. O defeito/problema apontado é de tal ordem que pode impedir sua evolução profissional ou pessoal?

Se tiver dificuldade em fazer essa avaliação, pense nesse defeito como se fosse bem pior. Usando novamente o exemplo da pessoa que é acusada de ser relaxada: ela consideraria que se acha "um pouco" relaxada. Mas, para piorar o quadro, se veria como "bastante" relaxada.

A seguir, imagine o que acontecerá com sua vida profissional se, daqui a dez anos, você tiver o mesmo defeito/comportamento em um grau mais acentuado. Continuando com o exemplo: ser bastante relaxado/a irá travar sua carreira? Irá atrasá-la? Para se ter uma visão exata, é muito importante exagerar o defeito. Porque poucas pessoas têm uma visão absolutamente real de si mesmas: o que nos outros chamamos de teimosia, em nós mesmos dizemos que é persistência.

É com base na sua resposta a essas perguntas que você irá estabelecer seu plano de ação para corrigir seu problema, melhorar seu desempenho ou tomar a medida que for necessária. Se fizer isso, a crítica que agora lhe doeu na verdade está salvando sua carreira no futuro. Ou, se você realmente fizer bom uso dela, pode ser o seu grande salto.

Conheço um exemplo extremo disso, um rapaz que é um grande especialista em sua área de atuação. Ninguém se equipara a ele. Um dia, perguntei como ele se tornou um profissional tão bom. E ele me contou que, ainda no Segundo Grau, recebeu uma crítica que achou injusta sobre seu pouco conhecimento do assunto. E decidiu estudar o tema. Estudou tanto que virou um ótimo especialista. A crítica que fizeram a ele era justa? Era injusta? Não sei. Mas sei que teve um resultado muito bom. E que esse resultado foi unicamente mérito dele – e não de quem fez a crítica.

3 – Siga em frente – mas registre o fato.

Tendo aproveitado o que o veneno da crítica tinha de bom, está na hora de seguir em frente. Porque veneno bem usado pode ser remédio – mas quando se toma repetidamente é veneno, mesmo. E se você ficar remoendo o tema ou comentando com seus colegas e amigos irá se envenenar com irritação ou raiva de quem lhe criticou.

Gaste o tempo que iria usar para isso em outras coisas: como, por exemplo, registrando, em um caderno especial (e altamente pessoal) o que aprendeu com o incidente. Se você mantiver um registro desse tipo, poderá obter algumas vantagens adicionais: descobrirá se está repetindo sempre o mesmo comportamento (ou adotando variações dele) ou se existe alguém que o esteja criticando de forma sistemática. No primeiro caso, terá a chance de corrigir-se. No segundo, perceberá quem tenta travar a sua carreira – e talvez até o porquê desse comportamento. Em qualquer um dos casos, aprenderá mais sobre si e seu desempenho profissional.